sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

De novo e sempre

Tenho medo do que pode mudar ou do que pode não mudar, mas ter medo já é uma mudança. Acende na gente essa percepção de que é preciso correr sem os pés e tropeçar no amargo da nossa estrada. Eu estou com medo, e não tenho vergonha. Porque há em mim duas pessoas: eu e meu coração. Esse eu, essa carcaça envolta a genética meio suja, suja da ausência fraternal. De que servirá o mesmo e novo brinde? O tilintar das taças é como romper no tempo algo que foi unido pelo coração. E tudo se confunde, mistura: os sorrisos, os brindes, o pulsar de cada órgão, os abraços, os olhares, nossa respiração, o novo. O mundo está envelhecendo sem saúde, interrompendo todo e qualquer detalhe vindo do céu. A mudez do céu é o reflexo da terra gritando. A paz mora dentro do orvalho das flores. O novo que não sabe envelhecer, não trará felicidade nem tampouco descanso. Estão confusos e ultrajam couro de borboleta, pois não sabem soltar as asas. A partir de hoje, deixem livre as asas de suas borboletas e sejam mais que um ‘’eu’’ e um ‘’coração’’. Unifiquem, voem, renasçam.

Teresa Coelho
31/12/2010

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Anoitecer

Onde está o sepulcro do amor? Eu cavei a noite toda procurando pelo ar que fica entalado na minha dor. Não quer sair, não posso voar além do que você quer que eu seja. Não suporto mais levar minhas lástimas para sua vida nem levantar da vida algo que ela não quer me dá. Meu corpo permanece ínvio, meu caminho não é mais nosso, e o céu ficou incinerado depois de eu ter olhado. Doei os meus sonhos dentro de uma caixa furada. Renuncio a partir desta noite a emoção, mas é só por hoje. Meu abraço corre desprotegido, meu beijo desliza constrangido, meus poros pararam de respirar. Onde está a rima, o ritmo e a fantasia de viver? Naufraguei em seus olhos o tempo, a paz e a bagunça do silêncio, do brilho, do amargo... Meus aplausos esgotaram tanto quanto o por do sol que não vejo mais ao seu lado. Mas não é importante sair à procura da nossa cura, afinal, isso foi só um desabafo do anoitecer com estrelas, ventos, sorrisos soltos e sua ausência.

Teresa Coelho

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Liberdade

Eu desafino meu coração, as pálpebras e os pés afundados na areia de leite. Desafiei a liberdade chamando-a de minha, mas de quem sou, senão dela? A voz sai repicada e suada. Suei em cima dos seus olhos, eles flamejavam perto da minha boca, mas você tapava minha voz, e eu era sua de qualquer jeito, era o seu medo. Seu grito tremia dos cabelos às pernas, desaprendendo a ler os pássaros que agonizavam sem vôo em nossas mãos, tropeçando em nossos corpos o remorso de não ter culpa. A confusão me distrai, e eu me entrego sem cheiro, sem jeito, sem esperança... Mas não vou crescer nos seus contos, porque minha dor é apelativa e fraca. Vivo das esmolas atiradas por amor, dentro das marcas do vento e da grandeza da indecência, do estrago que meu líquido fez, estancado na sua língua. Nasci na rua, na rua do meu âmago me encontrei sem roupa e minha alma descansava longe de mim, ela dormia aí com você. Puderam dançar a noite toda, a ousadia não mofava mais os abraços, pintaram no chão pegadas feitas de devaneio, choraram com a garganta, despencaram sem asas de tanto esperar... E por uma única noite fizeram da liberdade um suspiro de adeus ao que nunca precisaram viver para saber que era isso o que sempre quiseram.

Teresa Coelho
18/11/2010

domingo, 24 de outubro de 2010

Era ele, era ela

Tudo mundo acharia que seria imoral e que atingiria o ego em putrefação daqueles vermes vestidos de seres humanos. Mas o menino sabia da roupa que vestia, estava nu, e foi nu que saiu de casa para ir ver sua menina, aquela que era sua parte em forma de busca, imensidão, prosa, sutileza, sonhos, canções, abraço, magia, saudade... Olhou-se no espelho e tentou fazer algum contato com os olhos, queria saber se estariam vivos o suficiente para esquentar os dela, então viu que estavam tão vivos quanto o sorriso de sua menina. Era uma tarde chuvosa e quente. Não podia saber se o dia estava calmo ou não, o dia naquela tarde não estava no mundo, estava dentro dele, no mundo que ele queria dar a ela. Tentou sair correndo, mas lembrou-se das flores, daí, onde roubar flores numa cidade tão virgem de poesia? Por isso roubou as menores flores. A chuva atrasava seus passos, talvez por nem saber o que era andar na chuva ou nas nuvens, só queria vê-la.Avistou a porta, a porta era para ele naquele momento o último e ao mesmo tempo o primeiro degrau da escadaria. Segurava as flores tão fortemente que arrancou uma pétala, suava na chuva. Aproximou-se da porta e abriu-a... Lá estava a sua menina, com o sorriso que vivia, com os olhos que não precisavam ao menos abrir-se para aumentar os batimentos cardíacos dele. De repente o abraço. Não sabiam se corriam ou se ficavam se entreolhando pelo resto do dia, da vida. No entanto, ela veio com todo o corpo, toda a alma, respiração, desejo e se apertou contra o corpo dele... Ele podia sentir cada curva dela, tocava-a desenhando a ânsia de tomá-la para si. Os rostos finalmente se encontraram com fome, desordenadamente, um invadia a vida do outro e pediam licença com as línguas, as mãos e os olhos. Acharam enfim onde se fabricam as cores, os sons e os arrepios. Se encontraram, se traçaram, se tocaram, se tornaram o menino dela e a menina dele. Assim: com amor, mordidas, descanso e paz.

(Teresa Coelho)
24/10/2010

sábado, 25 de setembro de 2010

M

Conheço a carnosidade da tua alma, tua pele é um convite eterno de noites embriagadas e solavancos doloridos. É uma sede que me joga repicando as veias, vivendo de súplicas e delírios sondáveis, é uma sede que dura a vida toda. Eu faço poesia na tua saliva e declamo-a nos beijos, desconhecendo minhas preces, minha paz, minha calma, minha solidão. Apego-me às noites dormidas dentro dos teus ombros exaustos que me puxam numa cegueira viva e nítida, quase eterna. Balbuciaste teus apelos perdendo-se em meus braços, pernas, amasso... Tua voz celebra o orgasmo que eu tenho nos teus olhos, celebra o amor. Eu te amo.

(Teresa Coelho)
25/09/2010

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Uma Parte

-- Paralisada, disse ela para as mãos. – Se mexam! Se mexam! Implorou com certa conformidade no tom de voz. A menina dos cachos quebrados ficou sozinha na calçada da rua esburacada e escura. Guardava dentro dela um segredo que nem ela mesma lembrava se era verdade ou vontade de ser. Mas o que queria aquela criatura desnutrida de sonhos, parada numa rua desconhecida? Ela crescera lá. E crescera no interior de sua infância uma coisa crua e sem cor, sem muitas lembranças práticas... Não tinha culpa se não se lembrava das coisas significativas. Todavia, o que poderia ser mais significativo do que não saber pela primeira vez que não é preciso comparar flores e estrelas? Os sapos começavam a morrer na estrada, o vento gélido e úmido endurecia a saia e arrepiava de alguma forma mágica cada poro de suas coxas brancas e sem vida. Abaixou a cabeça por um momento e percebeu seus pés afundarem na areia que ia arranhando gradualmente suas feridas encobertas pelo tempo. No silêncio do desconhecido é que ela pudera reconhecer suas verdadeiras coisas: o ritmo da respiração; o gosto de sangue na língua; a testa quente; o relógio atrasado; o peso nos olhos; o cansaço dos ombros; o descaso às coisas complexas; a bagunça da sua história. Só que sem perceber suas mãos começaram a se mexer. Ela acordou para fora e berrou feito um animal ferido:
--Mãe, eu ainda tenho vida!

(Teresa Coelho)
09/09/2010

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Meio

Acordei meio parida, meio vivida, meio alguma coisa por completo. Deixei minhas roupas sujas no chão mofado do meu quarto, deu vontade de me deitar junto delas, de peneirar minha existência sem existir. Sobressaltei minha cegueira sobre as árvores e caí dura e rachada no chão, feito uma barata que não morre de tanto apanhar. Eu nasci pelo avesso da sensibilidade e está tudo tão bagunçado dentro de mim, que não consigo me mover nem puxar o lençol para me cobrir. Sabe quando a alma treme na palma da sua mão e não tem como você salvá-la sem deixar o corpo desfalecer junto? Ainda sinto minha pele gritando, ainda sinto o calor abrasivo das minhas mãos prendendo a verdade na boca, ainda sinto a fome dos aplausos exaustivos no meu estômago. A partir de agora é ter que ver o dia se acabando e misturar meu encanto, meu tormento, meus calos e minha eterna melancolia pendurados na minha espera melada de sonhos e saudade. O sol se foi.

(Teresa Coelho)
08/09/2010

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Eu posso abastecer silêncio, mas não me deixe ser abastecida por ele.

(Teresa Coelho)

sábado, 28 de agosto de 2010

Exposto

Parece que minha vida cresce para dentro, se enraizando na minha genética enlodada, primitiva, crua e ensangüentada. Minha visão ressecou por esses dias, foi tomando forma de ardência molhada, molhada da urina que escorreu incessantemente pelos meus olhos. Não é cedo para conhecer o que faz sentido. Ai! Parece que viver rasga um pouco nosso lado esquerdo... E continua rasgando. Minha cabeça gira, gira, gira, não para de girar enquanto você grita comigo, enquanto você descostura a paz remendada. Faz café fraco de manhã e bebe morno prá esquecer que tem o resto do dia para pensar no que eu me tornei... Mas é o que eu sempre fui. Porque procuro no mundo o seu abraço e acabo machucando meus braços de tanto me abraçar; é vazio. É frustrante. Cada pedaço dessa casa desmonta quando nossos olhares se cruzam. Dá medo tocar na minha essência? Dá nojo saber que essa verdade toda é minha própria vida? Falta força para chorar perto do seu abrigo, que já não me ampara de laços indeléveis e beijos quentes. Nossa relação virou adeus todas as manhãs. Eu estou me despedindo agora, minha dor não é mais virgem.

(Teresa Coelho)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Cada Batida

Meu corpo caído no teu corpo e o teu coração faz: tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum...
Não consigo mais segurar meus braços fardos, presos aos teus...
Deslizando no suor que expiramos ao mesmo tempo, que nos molha e escorrega no nosso sôfrego desespero de amar e gritar e entrar na necessidade barulhenta e delirante da noite...
De repente provo teu contorcionismo, sobreponho minha boca perto, quase dentro do teu ouvido e expurgo toda a infinidade de prazer num desabafo só... Tem nos teus olhos um pedido de desculpa por existir e um suplício de afeto por ter paz no inferno.
Teu corpo caído no meu corpo e minha alma sussurra: não vá embora nunca mais.
Tum, tum, tum...

(Teresa Coelho)
19/08/2010

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Luto

E vai ser sempre assim, a vida sai arrancando pedaços da gente de uma vez só...
Não há música, nem vento agora. Só escuto as batidas frenéticas da minha mão tentando achar um pouco de paz no meio dessa bagunça...

Teresa Coelho
09/08/2010

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Incompleto

Cada pedaço cadavérico do que eu sinto, faz desse caminho um encanto por cegueira estraçalhado pelos pés e engolido pelo cansaço do meu ombro; o céu está aberto... Sangrando nuvens roxas e estrelas repartidas, enquanto a outra parte das estrelas inspira fugir dos nossos olhos. Elas não querem olhar como um último suspiro de alguém feliz antes de voltar prá lama. Nessa imundície eu choro com minhas fitas vermelhas caindo do cabelo, a roupa surrada, minhas mãos ressecadas, meu cheiro de corpo escondido, minha inconseqüência contínua, a desordem dos meus sentimentos, o impulso dos meus dias... Os meus quinze anos vazios de alguma coisa que ainda não desvendei, arranham meu coração e tapam minha boca o tempo todo em que eu estou comigo mesma. Esse pó que cai do céu enquanto escrevo, é o mofo das nuvens, é o sol em farelos de agulhas pequenas, feitas por raios luminosos que me penetram a consciência, deixando pesada, pesada, pesada... Meu rosto sereno se desmontou. E quanto vale a calma quando nosso corpo quer espírito?

Teresa Coelho
06/08/2010

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Um Gosto

Abri a porta dos meus olhos. Peguei a fobia dos nossos beijos dentro do chão.
Do chão que eu senti tremer por já não aguentar proibir a passagem do amor.
Seu corpo se forma como uma lembrança, como um quadro que atrai pessoas de verdade.
Ele desliza nas pontas dos meus dedos; meus dedos aprendem a andar nessa estrada branca, macia e doce.
Espero todos os dias poder sentir o gosto do cigarro e da pastilha que transborda de você.
Me afogo nos gestos explícitos da sua face. Seus movimentos me prendem dentro de nós.
Preciso me perder na sua bagunça, porque me sinto tão organizada de vazios concretos. Acelera minha vida
no que te deixa calma. Embriaga nossas músicas em sintonia de solidão... Encontra você sozinha dentro de mim.
Nossa liberdade quer gritar e ninguém tem o direito de ofuscar o nosso grito, nem o nosso amor.

Teresa Coelho

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Diz

Diz-me o que é que tem de tão penetrante nesse teu sorriso desconhecido?
Você é a loucura desconhecida que se encaixa na minha inexatidão de ser.
Preciso tocar sua pele e deslizar meus sonhos no seu corpo...
Cintilar nos seus gemidos e observar a calma do seu cansaço...
Meu encanto de mistérios, me diz com quantas palavras posso lhe afetar?
O perigo que rodeia o que ainda não aconteceu, me entorpece a querer gritar por você...
E grito. Peço permissão para entrar na sua vida...
E beijar o seu todo, sufocadamente a cada segundo, do qual, esqueceremos de pertencer ao resto do mundo...
Pertencer a você uma única vez é suficiente para ficar dentro mim, em constante lembrança, o que me fez mais feliz em tão pouco por um logo tempo...
Preciso dos seus olhos para enxergar a estranha que existe em mim...
E quem sabe um dia, do seu amor, para entender como se faz para viver...
Para viver você em mim.

Teresa Coelho
23/03/2010

You gave me a reason

Olhei para trás de mim, dos meus pés, das minhas costas doloridas. Nada pude fazer, nem nada pude sentir se eu não quis sentir mesmo. Quero esquecer a exatidão da morte juntamente com a escuridão que ela se mostra e a inexatidão da vida com a clareza que ela me mostra. A clareza me encandeia. Qual é a condição decadente mais próxima de duas pessoas? Estou próxima sem estar. Vamos correr, vamos correr... Então, quem se cansou de correr atrás do próprio cansaço? Nunca me canso de me cansar. E quando ouço sua voz, é como se explodissem milhões de fagulhas na minha barriga, é como se eu perdesse a respiração dentro de suas pernas, é como ser prisioneira da ausência do tempo, do que é certo ou errado, do que faz bem ou não. Tento suspirar aliviada, mas essa voz escalda meu corpo, entorpece e revira o que tem dentro dos meus olhos... Não adianta acordar pela manhã e esquecer o que me faz feliz. Por isso eu não quero o alívio, nem a paz, nem o descanso. Preciso da incessante guerra de veias pulsando desordenadamente, do meu coração batendo nos ombros, do silêncio entre gargalhadas mudas e mãos derretendo. Necessito acordar sem pensar que será só mais um dia. Não quero me encontrar jamais; se encontrar é achar alguma coisa e só. Depois o que vem? Quero permanecer perdida. À procura de tudo o que nunca tive ou deixei cair enquanto corria. Você me deu uma razão. Por enquanto não quero descobrir o que é ou o que faz, mas sei que é um motivo e poderá futuramente ensinar como se fabricam asas de anjos que não caíram do céu.

Teresa Coelho
15/07/2010

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Sem Título

O meu canto é soprado pelo lugar que eu gosto de habitar. Prefiro os botecos empoeirados, com pouca iluminação vermelha e verde. Chão escuro de madeira com manchas de bebida, cheiro de cigarro, gelo seco e sexo. Nenhum olhar se encontra por medo, é por vontade, é por fazer de conta que está olhando, é pra reacender alguma saudade. Estou bem, muito bem ao lado das putas, dos gays, das lésbicas, dos doentes terminais, dos covardes, dos solitários e da minha solidão. Queria fotografar o barulho dos copos brindando a irrelevância de estar ébrio, porque há uma mutualidade de sentimentos dispersos, e cada lágrima representa uma dessas agonias. Meu vício agora é beber o meio termo da vida, o bigode dos velhos abandonados, a cárie das crianças com sede, a impotência sexual dos fumantes, o frio dos mendigos, os pés dos garis, as mãos do agricultor, o mundo dos autistas, o grito do parto. Fuligem de carro; alguém cai de repente no meio fio; um salto quebra; uma mãe desesperada liga; um caminhão espreme um sapo; uma folha cai; um gato se assusta; alguém morre. As portas estão se fechando, as pessoas vão embora do boteco deixando marcas vermelhas de batom nos copos, garfos caídos, cabelo no chão. De alma lavada saem e se deitam com vergonha do que fizeram, para no outro dia irem trabalhar como fantoches sem plateia.

Teresa Coelho
28/06/2010

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Colapso

Além de mim eu sou o que restou de você. E você é qualquer um que passa por mim. Mas tem que passar rasgando, porque o resto é a sobra da fome, é o que não coube mais por excesso. Por isso eu sou excesso de sobras, além do que já sou.

Teresa Coelho
23/06/2010

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Mais feliz

Senti minha alma levitar como nuvem que se esquece de parar de crescer, feito vontade que se entrega no tremor das pernas, e deixa entregue por falta de controle a respiração afogada. Encostei minhas costas numa parede suja para fitar em você alguma coisa que também estivesse em mim, mas onde estávamos em nós mesmos? Um no outro? Qual o tamanho dessa busca? Fui ao teu encontro. Não senti meus pés, porque já não sabia se eram os meus ou os seus que me sustentavam. Não senti meu ar, porque também já não sabia se era o seu oxigênio ou o meu que me fazia viver. Deixei sem direção minhas mãos, por assim levar no escuro o líquido que nos juntou numa mesma carne. Tenho uma voz que precisa sair, minha inquietude tem fome por sua pele; por sua pele inquieta. Um dia direi às estrelas de seus olhos que a calma tem a suavidade da sua língua cravada no meu calor. Agora deito sem saber o porquê de tantas palavras, se eu podia apenas deitar sabendo que está chovendo e que sem você não há mais necessidade de vida.

(Teresa Coelho)
18/06/2010

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Entre a casa, vísceras e confetes.

-Vísceras e confetes. Disseram entre si. Não havia paz naquele lugar, o chão escondia o peso dos pés e as paredes exalavam a poeira dos corpos imundos; sedentários de prazer. O ácido que saia da casa afagava minha dormência e perfurava meu semblante. Minha casa interior. Nela estouravam goteiras em todos os cantos, saíram e fecharam a porta por fora, por isso a cada dia o mofo só aumentava e a luz se tornava uma confissão antiga... O acaso banalizou sentimentos que eu não pude viver. Os confetes viraram papéis repicados, pisoteados e enlameados por sapos, baratas, formigas, pessoas, cinzas de cigarro e garrafas. Virei saliva que difama a rua. Estou sendo demolida por fazer barulho e tentar desabar minha morada interior; acabei desabando de qualquer jeito... E despenquei de mim, do meu carnaval, da minha eternidade. Fui me desmontando, me achando, me matando. –Eu desmontei. Disseram entre si. Cada um com o seu silêncio, razão e ódio. Mas o desejo era dos dois, eles se pertenciam a partir daquela despedida. O mesmo desejo, a mesma carne, a mesma boca, a mesma culpa. –Entre vísceras. Disseram entre si e descansaram.

(Teresa Coelho)
14/06/2010

terça-feira, 8 de junho de 2010

Ausência poética

Ok, isso já tá ficando meio banalizado, cansei de hipocrisia. Quer saber mesmo o ser humano que eu sou? Apenas saiba, mas não se aproxime. No começo serei atenciosa, inteligente, simples... Depois de algum tempo vou enjoar de você, porque suas qualidades e seus defeitos não me atrairão mais. Passarei a ser fria, vou fugir de você, não deixarei de gostar, no entanto algo no seu jeito de viver me fará ter nojo, argh. Sou egoísta, estranha, anti-social, tenho complexo de inferioridade, sou extremamente carente e inconstante. Vivo nos extremos do amor e do ódio o tempo todo. Qualquer palavra que você me disser pode me ofender ou me iludir. Qualquer. Ah, odeio gente com dentes verdes e que usam alma de flores. Outra coisa, pessoas que têm medo de viver, distancie-se, já não basta toda a minha carga disso. Sou intensa, dependendo da pessoa que me despertar a isso. Hoje, e sempre, creio eu, sinto que viver do jeito que eu vivo é muito vazio, essa minha eterna busca pela perfeição das pessoas e das coisas, essa eterna cobrança só faz de mim mais uma que não sabe o que porra está fazendo aqui. Realmente eu não sei para quê vim. Mas enfim, não quero fazer poesia por hoje, só fique claro que minha presença é totalmente concreta ou totalmente vaga.

Teresa Coelho
08/06/2010

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Não era pra escrever

O brilho do olhar virou insensatez. Sugaram meus planos e minha razão; sonhar virou ardência. Aquele olhar apertado, o gosto de menta no lábio trêmulo. A história que não podemos escrever... Não insista, não revelo. Eu só queria deleitar meus braços na sua calma, mas não, não se pode escrever. Estou suja, estou vaga, estou imprevisível. Há alguém que possa me servir mais calor que rancor? Há alguém que possa me perdoar por ser inconstantemente complexa? E há alguém? Não há. Não se pode escrever isso também. Junte as músicas, o meu cansaço, minha ansiedade, junte tudo que lhe dei por nada, e deixe mais inacabado que minha vida. Retroceda. Perdoe e me esqueça. Não posso escrever, não posso, não posso... Se não tenho você aqui, não posso escrever nossa história, não posso... Enfim, volta.

Teresa Coelho
07/06/2010

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Céu

Hoje eu não quis acordar, nem dormir... Fiquei meio morta, meio viva. Meio alguém. A metade de mim já é muito para o que eu valho, é muito para o que ainda falta preencher. Eu era velha quando comecei a nascer por isso meu coração não bate mais vermelho, bate com todas as cores. Tracejo minha solidão com pontas de algodão queimado, enquanto recorto do meu pulso cicatrizes esquecidas no passado, no contratempo feito de sangue, água e sal. Já disse que o céu quase caiu em cima de mim essa madrugada? Veio correndo, flamejando pelas estrelas e se entalando pela escuridão, a imensidão fora o que o parara. Por isso estou na metade – metade fogo, grito, pavor, escândalo, ousadia, indecência. Já a outra sou eu, e bem, dessa não tenho muito que falar, mas se você quiser respirar no vácuo, fique à vontade.

(Teresa Coelho)
04/06/2010

terça-feira, 1 de junho de 2010

Entardecer

Sinto teu sangue pulsar nas minhas unhas e com o encéfalo rasgo tua roupa, e perfuro tua carne com o meu corpo. Caiu a tarde, e todos os meus delírios escoem para baixo da respiração falha que ofega nesse quarto, extremamente íntima, sem delicadeza, nem compostura. Desfaço-me. Levanto-me tonta de saudade, minha visão embaçada e perdida num branco, na lembrança dos teus suspiros. Suspiros? Eu disse suspiros? Perdão, mas estão na minha insaciável imaginação. Ando por esse cubículo no escuro, tateando a parede gelada até me arrepiar, até me machucar com algum lixo no canto do meu ermo, até cansar de te procurar em mim e em tudo que eu toco. Mas a verdade é que eu nunca canso. Eu vou me arrastar no teu amasso, eu vou implorar pedaços do teu grito, eu vou jogar tuas pernas na minha cintura, eu vou... Eu vou! Tu irás sentir a alma falando e sair quicando pelos poros, envenenada e viva. Viva! Viver é sair descalço e voltar sem os pés. Entardecer é tão triste. Todavia só sei oferecer tristeza e libido, o meu riso vem do acaso. O pináculo da solidão é o meu caminho delimitado, promíscuo, sujo... Sujei-me ao nascer e quanto mais tento me purificar mais inconstante fico. Estou sendo estuprada pela vida e a alma é meu gozo. Disseste que viria me ver ao final de cada dia, por isso te espero no fim de cada noite... Espero.

(Teresa Coelho)
01/06/2010

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Passado

Eu quero meu passado de volta. Por favor, eu imploro que alguém o traga de volta para mim. Imploro... Ouviram?! Passei a ser uma prisão a céu aberto, onde o que me prende é ela vir me buscar ou não. Ela a vontade. Não quis olhar mais o que nos restou porque meu corpo agora traz resíduos do que um dia foi comida para nossas façanhas... Sinto-me exausta como uma crosta que pesa na consciência. Eu arranhei o teu olhar rabiscado, fiz desse um desenho estranho. Você é a vontade estranha, a qual eu jamais pertenci e jamais me fiz dela um desejo seu. O que tinha de bom desvaneceu-se, queimou, sublimou, sumiu... Deixou de ser. Pode ir, deixo de ser o peso ou qualquer erro sem detalhe. Minha fantasia desvale todo sentimento jogado a valer pena, desvale todo beijo dado para ser verdadeiro, desvale toda a paixão que virou vácuo e silêncio. Meu caos contra a sua disciplina. Como é difícil mexer numa história que nunca chegou a ser intensa... Foram madrugadas soltas, diria perdidas? Mas perdidas de nós ou por nós? Diria as duas coisas. Minha boca pede ajuda, meu coração pede abrigo, meu corpo pede nuvens... Sou feixe de nudez, no entanto minha maldade sofre de inferioridade óptica. Eles me ouviram e chegaram para me buscar. Estou voltando um pouco para o passado, lugar onde não se tem o presente, nem o futuro, nem a nostalgia. A nostalgia é felicidade mórbida e boa. No passado eu não perdi ninguém, nem conheci os defeitos das borboletas que um dia me deixariam por falta de atenção. O passado é a vida adormecida; dormência escrita sem veneno. Adormeci.

(Teresa Coelho)
28/05/2010

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Mais um se foi

Alimento-me de intensidade, extremos e detalhes...
Se um dia alguém me encontrar, não tire isso de mim.
Tire-me a paixão ou a loucura...
Que de nada me valem ao não ser corroer minha existência...
Essa existência falha e ambígua...
Cansei do silêncio, do mistério e do prazer...
Fico esperando você voltar, voltar para você...
Viver me retalha em sangue póstumo...
PAREI COM ISSO! Eu só queria realmente desabafar e dizer em palavras cruas e primitivas o que me aflige... Mas o meu canto é falho e impreciso. Minha expressão é fugitiva, covarde. Não quero me seguir, não quero amar. O amor é dor entupida. Peço desculpas a vocês, meus caros leitores, de não terminar Isso como eu queria ou como vocês esperavam, só que minhas mãos tremem de ódio, minha garganta dói com o choro entalado... Não quero amanhecer, nem ver o sol, o mesmo sol que um dia já me fez feliz, hoje queima.

(Teresa Coelho)
26/05/2010

terça-feira, 25 de maio de 2010

Vôo

Então me deixem voar, mesmo que isso me quebre a paz... Renuncio minhas asas.

(Teresa Coelho)

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Sede

Eu me derramo em seus espasmos
Cobertos de injúrias
Ditas por outras bocas...
Eu me supero no seu colo
Esse quente e terno
Eterno?
Caímos por sede...
Levantamos por sede...
Caminhamos também por sede?
Tudo é sede a partir da paixão?
Não há saliva que me regenere...
Procuro a cura todo o tempo em alguma visão escapulida de seus beijos...
Seu beijo. Meu.
Minha inconseqüência. Sua.
Dou-lhe meu corpo fatigado em memórias despidas...
Ainda lembra-se dos corações farpados?
Lembro-me do movimento falho, preciso e amado...
Estou a buscar o seu calor...
O seu mistério...
O seu silêncio...
O seu prazer...
E espero o amor
O tempo que der, vier e for...
For por amor, eu espero.
For por nós, eu vivo...
E vivo...

(Teresa Coelho)
24/05/2010

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Amores sem Flor

Sabe as flores? Eu odeio falar sobre elas, mas falo.
Sabe o amor? Eu também odeio falar sobre ele, mas falo.
Flores e amor são duas coisas inevitáveis.
Pensando bem, você acha as flores descartáveis? Eu também acho. No entanto, flores são delicadas e lembram o amor...
Então os dois são a mesma coisa.
Você não acha? Nem eu.
O amor não precisa das flores para ser amor, nem as flores precisam do amor para serem flores.
Sabe o fim? Eu odeio falar sobre ele, mas falo, quer dizer, acontece.
Ou eu falo? Sim, eu falo e fim. Fim. Tudo tem fim. Fim.

(Teresa Coelho)
20/05/2010

sexta-feira, 14 de maio de 2010

A vida e as Flores

A última vez que eu vi flores avulsas, minha respiração tinha parado. Elas pararam de amar o pólen e a vida parou de fabricar cores. Intercalei meu sangue nos arbustos desenhados em paisagens mortas e peguei estrelas com as pontas de meus dedos. No entanto chega. A natureza me dá náuseas, é tão poluente de coisas que nunca mudam, fartei-me da mesmice. Mais tarde tentarei conversar com a minha febre, ela me dá novos mundos, mas não, não direi novos mundos, porque tudo o que criamos é como se já existisse de alguma maneira dentro de nós. Eu conheci um anjo. A felicidade agora tem a cor dos seus olhos castanhos, o vento tem a forma de seus cabelos e a vontade de sorrir tem o gosto do beijo... Essa tarde eu sentia falta de olhar pela janela, só que já não me importa ver a vida do lado de fora, quando ela começa a acontecer dentro de alguém que é mais amor e vida do que a própria vida que levamos sem perceber, sem acreditar. Pularei de um penhasco com os olhos fechados, porque quando chegar lá em baixo não lembrarei que a vida vista de uma janela é mais fácil de conviver, quando tudo que se tem são beleza e solidão. Eu quero ser de verdade.

(Teresa Coelho)
14/05/2010

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Alma pelo Avesso

Não sei como começar, nem como falar...
O que eu sinto agora é algo feito uma magia sem mágica...
Aconteceu...
E eu renasci.
Não precisam saber sobre o que eu estou falando...
Apenas sintam ou finjam sentir...
Eu não poderia imaginar quão súbito fosse ser feliz
Não poderia imaginar que você viria a ser minha melhor fragilidade...
Os detalhes são os seus olhos...
Sempre desviando dos meus, o seu sorriso brota por timidez...
Nós brotamos por desejo...
Nada do que vivemos de tão pouco sai de mim...
Esse tão pouco preenche tudo...
Perdemo-nos em lábios trêmulos
Sem oxigênio...
Foi muita vida pra tão pouco tempo...
Por isso eu quero mais...
Quero fazer poesias concretas...
E me concretizar, de algum jeito, na sua alma...
Posso ser a sua vontade se você quiser...
No entanto, não me deixe sem o gosto da loucura que é amar pelo avesso...

(Teresa Coelho)
12/05/2010

sexta-feira, 7 de maio de 2010

3

Inventei de me descobrir por dentro e acabei perdida nos extremos da minha pressa...
O jardim está desfalecendo tão rápido...
Faz dias que não vejo borboletas voando distraídas...
O que me distrai?
O anseio me destrói...
Nada me leva e nada me deixa.
Por onde fico então?
Dê-me a fórmula do arrependimento...
A solidão me envenena, suspira poeira pesada...
Suja-me de terra e depois me enterra.
Ela resfolega minhas preces e me implora para não abandoná-la...
E ordena a exumar suas escarnas com meus pecados...
Machucando contra eles...
Ouvi dizer que viriam logo cedo, depois da meia vida...
Não veio ninguém, eles têm medo dela...
De mim?
Foi a última vez que eu os vi...
Estavam sentados: eles, a solidão e as borboletas.

(Teresa Coelho)
07/05/2010

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Rabiscos

Estou diluindo em pedaços apodrecidos do meu corpo
A felicidade é um grito e eu não suporto mais tentar ouvir...
Tudo vira pó, sopro...
Virei mágoa... É um vazio tão grande...
Afastem-se de mim! Afastem-se!
Meus olhos estão inchados, flamejam...
Eu tremo um desespero agudo...
Enquanto houver dentro de mim algum vestígio do que lhe faça feliz
Abdico viver dos restos que nunca acontecerem na minha vida...
Se alguma coisa em mim ainda lhe tira o fôlego...
Deixe-me voltar a respirar por você...
Sabe a minha gentileza? Falaram que ela não existia mais...
Só que você existe nela...
Permaneço ao seu lado, mesmo sem poder rabiscar meus sonhos em seus olhos...
Foi você o meu melhor desenho...
Não vou lhe apagar, nem dizer que quero desenhar outra pessoa nas minhas letras...

(Teresa Coelho)
06/05/2010

domingo, 2 de maio de 2010

Um Motivo

Por tanto tempo eu procurei alguém que me deixasse sã dos meus extremos...
Esse encontro tem sido explosivo e tem me perpetuado de alguma maneira em você...
Mas eu peço permissão para conhecer o jeito que te faz sorrir melhor...
Qual a sensação de sair ao sol e saber que a mais bela de todas as pessoas a sua volta?
Sua presença tem cheiro de poesia.
Não é por gentileza que falo isso... É por algo mais forte do que eu...
É por você...
Só posso te dar esse tipo de beleza...
Porque me é escassa a pretensão de inverter o doce de todo começo...
Lá fora é tudo muito frio e não tem graça deitar no chão sem você...
A única expectativa que eu crio é de poder libertar a sua entrega...
Quero buscar em seus olhos o que falta no meu coração...
Quero me suprir do seu oxigênio...
Vamos amanhecer mais uma vez?

(Teresa Coelho)
02/05/2010

sábado, 1 de maio de 2010

Impulso

Pertenço a cada olhar que sabe me fazer viver de verdade. Desmancho porque não me convém passar sólida por ninguém. Gosto de pessoas de verdade, por isso: Não me projete para satisfazer o vazio da sua vida.

(Teresa Coelho)
02/04/2010

sábado, 24 de abril de 2010

Aborto

Um corpo nebuloso
Que escapa
Das mãos.
Sou pecado
Em forma
De amor.
Eu te juro
Infelicidade
Mútua.
Nem sempre
Respiro
Você.
Inalar já
É
O bastante.
Minha morte é
Leve e
Promíscua.
Acontece raramente
Tanto quanto
A vida.
Escapei-escaldada-escalando-e-excretada.
Sou excreta
Abortiva de todo
Ventre.
Por ventura
Me faço vento
E passo.
Passei-passado-passou.
Acabou
Os olhos
Cerraram.

(Teresa Coelho)
25/04/2010

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Carta à única Mãe

Você veio de longe, muito longe. Eu quase não mereço escrever esta carta, nem nada que tenha amor envolvido. Se eu pudesse dizer apenas que te amo mais que tudo na minha vida, talvez já bastasse, no entanto eu quero mostrar que você é mais, sim é muito mais do que qualquer pessoa pode ser. Sua vida é um tipo de mudança na humanidade que flameja feito fogo, vem d’alma e se concretiza feito um sopro intenso e preciso. Sua presença é diversificada em gargalhadas soltas e em loucuras que armazenam o que um ser humano pode ter de mais puro no coração. Quem me dera coincidir todas as belezas do universo com apenas uma qualidade sua, não estou exagerando, nem mentindo, só deixando todos os meus sentimentos falarem mais alto do que a própria razão. Peço desculpa pela falta de cordialidade como filha ou como ser humano que tento ser. Às vezes sou uma companhia feita de solidão, mas me perdoe de qualquer forma, você é maior do que tudo que existe em mim. Só posso estar feliz se você também estiver. Estarei eternamente (inter) ligada à sua vida, por todas as vidas. Porque você é a minha paz, a minha lição, minha amiga, a minha estabilidade, a minha verdade, a minha emoção, minha alegria. VOCÊ É O MEU AMOR INFINITO, É A MINHA VIDA, a compreensão do que é ser filha e ao mesmo tempo mãe. MINHA MÃE, EU TE AMO.

(Teresa Coelho)
23/04/2010

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Dentro de Mim

Um dia nascera de dentro de uma menina duas pessoas. Um homem e uma mulher. Essa menina não tinha cor, nem nome, nem idade, nem família, nem corpo. Não tinha nada; era como um subconsciente ou qualquer espírito vazio. Mas havia criado duas vidas. Para ela ninguém passava de roupas ambulantes ou seres vegetativos. Sua simplicidade era de ser nada. Ser tudo é ser nada. Quem sabe talvez um pouco de cordialidade ou um pouco de teatro para firmar compromisso com aquelas duas criaturas que agora faziam parte dela.
O homem se manifestou dentro do daquele pequeno corpo como um meio mais animal de viver. Era preciso satisfazer aquele canibalismo. Ele invadia as suas vontades mordendo, arranhando, maltratando o corpo. Parecia não querer suportar o fardo da inocência e daquela bondade superficial de querê-lo dentro de si. Aquilo lhe perturbava a não-vida humana, e o seu compromisso era a elevação da alma pelo pecado. Ele desejava pecar no interior dela. Injetar a pouca prova do que representava o amor em seu perfume de defunto. A voz daquela criatura era um grito morto, mais aborto do que feto. No entanto havia nele ainda um medo estigmatizado, toda a fúria era isso, o medo. Mas o que o amedrontava? Sim, a mulher o amedrontava.
Ela era um tipo de olhar que sufocava e lhe deixava em paz de qualquer forma. Era feita de cores sujas, mesmo sendo pálida por dentro e por fora. Sua alma estava envolta pelo tormento que ela sugara da placenta estragada da criadora. Tudo permanecera durante aquele tempo em caos absoluto. De um lado se tinha a paixão, do outro o amor; fúria e calma; medo e coragem; violência e poesia; sexo e ternura; morte e vida.
Existindo de maneira estarrecedora, tudo se transformara em carne e em lamento. TUDO se passara DENTRO dela. TUDO estava nela e era ELA, a menina.
(Teresa Coelho)
22/04/2010

terça-feira, 20 de abril de 2010

A falta do nexo

Quando você passa a viver literalmente dentro de si, a única pergunta que surge na boca é:
Para quê eu tenho que saber quem eu sou?
Nada faz sentido enquanto tivermos respostas. Mas tudo se encaixa enquanto tentarmos algo diferente ao que é inteiro. Falta uma parte minha e essa parte é justamente a vida de tudo que falta conceber. Estou em falta comigo. Não pense que não quis ir ao seu encontro, até que eu fui, mas você não se atrasou... Então cansei de não esperar. Tudo é vazio, alguém já revelou isso?
Semana passada, acordaram lamentando, porque a consciência é pesada. Foram a saliva que julga e queima. Não senti prazer em lamber seus lamentos. Também não sinto mais vontade de escrever sobre isso aqui. Não arrepia, cansa... CANSEI.
Adeus.

(Teresa Coelho)
21/04/2010

sábado, 17 de abril de 2010

Simplicidade

Eu já não suporto essa distância...
Por onde você anda quando não consegue ler o que eu lhe escrevo?
Eu já nem sei como vou reagir a sua presença...
Eu já nem sei se a gente vai ser feliz...
Eu já nem sei se posso lhe fazer feliz...
De onde você surgiu dentro de mim?
Eu já nem acredito que você possa ser real...
Eu já nem peço muito pra você me beber com sede, com muita sede...
Eu já não penso mais em mim...
Um dia você vai me dizer adeus, eu sei...
Mas eu já não aguento mais amar para sempre...
Eu quero amar agora e com você.
Vamos?

Teresa Coelho
17/04/2010

domingo, 11 de abril de 2010

Um Mundo

"Eu queria todas as noites sentir as tuas costas nos meus seios
E poder ouvir a tua respiração ofegar no silêncio das nossas bocas
Queria poder soltar teus cabelos no meu rosto e puxar o teu quadril no meu
As tuas curvas são feitas de sonhos...
Deixa eu te mostrar com quantas cores se faz um arco-íris
Deixa eu te levar para dentro de mim...
Eu queria delinear as tuas pernas com os dedos,
Absorvendo toda a tua intensidade com os olhos...
Escreve em linhas tortas o teu sorriso na minha paz
E me refaz!
És um mundo tão inteiro de mistérios...
Tudo que existe em ti, me liberta de mim mesma...
Tudo que existe no mundo, me faz lembrar tua existência constante em mim
Eu quero fugir e provar do teu mundo...
Posso?”

Teresa Coelho
11/04/2010

Farsa

Sou composta internamente por feridas expostas aos meus tormentos
Elas têm o cheiro de cada lembrança que se perdeu na minha memória
Mutilam meu corpo e a minha vontade de não saber o porquê do gosto do gozo
Que sai de um jato através dos meus olhos e das minhas proezas espirituais
Eu nunca realizei um estado existencial de amar involuntariamente
O meu involuntário é não saber quando se ama
Eu me tornei filha de uma vida inconstante
Por isso as feridas que têm cor de metamorfose
Mudam de dor...
Sou conseqüência impura e sutil do objeto atravessado entre mim e o meu mundo secreto
Virei a minha cicatriz interna e a minha dor externa.

(Teresa Coelho)
11/04/2010

quarta-feira, 31 de março de 2010

Fuga

Tudo quebrado...
O líquido que compõe a vida espalhou-se pelo tapete branco...
Por um instante pude esquecer o que restou do nosso conto misterioso...
Mas o que resta é o que nos faz bem ou é tudo o que não suportamos lembrar?
Sua beleza me fez chorar...
Estou devolvendo você de mim
Agarrando os extremos do que você nunca quis ao meu lado...
Levando em consideração a sinceridade constante da sua inconstância...
Minha verdade não se faz de fugas delicadas...
Necessito sufocar-me do seu desprezo...
Você é quase como quando um vinho tinto cai numa roupa branca...
Sua alma é carnal...
Não existe.
Nossa relação não passa de acordes desafinados
Poesias rasgadas no meio...
No meio que paramos não há começo, nem fim.
Foi isso. Um meio.
Cansei de me entregar a tudo que está em mim
Você deixou um eterno cansaço de mim mesma...
E fugiu...
(Teresa Coelho)
31/03/2010

sexta-feira, 19 de março de 2010

Breve

Eu gosto da palavra nua. Escarrada com desprezo...
Prefiro que me explorem os escárnios que a razão...
E que me arranquem a pele com os dentes do que com mãos delicadas...
Perdi meu sangue enquanto tentava criar minha alma.

(Teresa Coelho)
19/03/2010

segunda-feira, 8 de março de 2010

Declaração Primitiva

E quando não houver mais o que pensar
Nem mais o que se dizer sobre o que não vivemos...
Irei viver sem pensar...
Quando não houver mais o que sonhar
Nem mais como me perder dentro de você...
Irei sonhar que posso me perder mais uma vez...
E mais uma, mais uma... Sempre.
E quando não houver mais a sua voz
Ficarei muda e surda, para nunca mais esquecê-la...
Quando não existir mais alguém que lhe faça feliz,
Quando não tiver mais ninguém que possa lhe encontrar...
Eu irei lhe encontrar e fazer feliz...
Porque diante de todos esses delírios há amor...
Há amor nessa declaração primitiva!
Eu dei em pedaços tudo o que não podia dar por inteiro, mas dei...
Você foi a particularidade mais profunda que eu pude manter em segredo...
Meu encanto e desalento...
Você foi tudo o que eu tive e não possuí...
E quando não houver mais o carnal...
Irei lhe manter, eternamente, na carne da minha alma...
Porque fosse minha vida, enquanto eu fui um passa tempo dos teus contos perdidos...
(Teresa Coelho)
08/03/2010

quinta-feira, 4 de março de 2010

De dentro

Gosto de sentir o barulho do carro e de ver como as pessoas preferem adormecer...
Não me perguntem quando eu costumo deixar o sol falando sozinho das coisas que ele mesmo não sabe iluminar...
Você bebeu tudo o que tinha no meu corpo com uma acidez que brilhava na boca, me asfixiando de loucura...
Foi um terrorismo de suspiros...
Dessas mentiras ensaiadas na prévia de um amor, que nem mesmo pertencia a essa estória...
Você nunca existiu. Você veio de dentro, de dentro de mim...
Eu costumava lhe vomitar quando me sentia sozinha
Só que a minha alma é o nosso vazio que se mistura aos pedaços juntados da sua inexistência...
Imaginação tem gosto de coisa esquecida...
Imaginar é como comer um doce que não existe mais ou que nunca chegou a comer.
À medida que eu entorpeço minhas mãos na leveza das suas, uma vez apenas, explode na garganta uma fala entupida e cheia de falhas da uma vida disfarçada...
Não importa. Ninguém percebe quando tenho em mim exacerbadamente a vontade de ser.
E sendo, a verdade é que a sua face não se completa com o sol que se esquece de iluminar o começo da imensidão de cada palavra perdida em imaginações desprezadas e fracassadas...
E se... E se... E se eu realmente roubasse todos os delírios que deixamos cair por causa do barulho que vinha da nossa estrada, será que as pessoas continuariam adormecidas?
(Teresa Coelho)
04/03/2010

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Nascer

Eu nasci com um gosto estranho de indelicadeza mútua. Quando meus olhos se abriram pela primeira vez, lembrei que tinha nascido e que não havia outro jeito, se não existir mesmo. Parir é como uma mágica, de repente, sai da abertura do pecado, uma vida. Você já nasce chorando, enquanto os outros riem...
Depois de algum tempo aprendi a andar, mas eu não gostava de ficar equilibrada em mim mesma, eu queria voar! Voar seria mais uma sensação de sonho, de fuga e prazer. Correr cansa. Comecei a expulsar de dentro de mim alguns sons, algumas vontades, quis ter a minha própria linguagem; ainda lembro-me do ataque de gritos e lágrimas, de quando me fizeram máquina da de suas comodidades. Foi um milagre...
Só que agora há algo me devorando, arduamente me obrigando a expelir tudo o que me estremece e me expulsa do que é normal. A gente se entrega involuntariamente, despenca de súplicas escondidas durante a noite, rasteja em silêncio para não incomodar, prova com os olhos a única saliva que lhe atrai... Que dor tem a morte quando não se tem vida? A cada abandono, de cada noite, você deixou o romântico que existia em mim, completamente triturado e assiduamente exposto ao seu desprezo. Você tem sido especial demais para se tornar concreta... E eu, concreta demais para me tornar especial para você.
Se um dia eu descobrir que a alma sabe voar e tem a sua própria linguagem, eu deixarei de viver para nascer de novo e de novo e de novo... Até que alguém canse de me parir.
(Teresa Coelho)
27/02/2010

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Um conto à Chuva

Sim, chovia muito. A água que caía não simplesmente molhava como apressava calculadamente os passos daquela menina que se vestia de púrpura e recolhia as folhas secas e sujas que a terra esquecera a beleza. Era um dia que se confundira com a noite. Houve algo que a fizera parar naquele instante, como se uma vida inteira tivesse que parar, e parou. Sentou-se num banco molhado, de um branco sujo; sentiu o gelo penetrar suas coxas. Sentiu frio e solidão. Na verdade era o que ela era fria e sozinha. Abaixou a cabeça por um instante, observou cada detalhe do seu tênis desgastado, perdido nos detalhes, via cada gota de água que escorria do seu cabelo indo de encontro com as mãos apoiadas no joelho. Foi levantando o pescoço lentamente, de acordo com o seu olhar que percorria a praça vazia, o lugar estava apenas com o seu modo de observar. Tudo aquilo que a cercava, a fez chorar, como se não bastasse nada do que ela fora soltou um grito, mas um grito delicado que ao mesmo tempo fora um desabafo, uma súplica, um pedido de socorro ou apenas nada. Após o grito sentiu o seu corpo desfalecer-se, levantou a cabeça para o céu, já com os olhos fechados, começou a arranhar suavemente o pescoço até chegar aos seios. A chuva não parava. Ela descobrira que ainda estava a existir dentro dela alguma coisa que ninguém tinha, porque ninguém poderia descobrir. Talvez quando chegasse em casa, iria esquecer de tudo o que descobrira numa única tarde. Naquela tarde, naquele banco, ela poderia ter morrido de amor, ter se matado com o vento, não iria importar, era apenas a chuva, o vazio e o que há pouco tempo descobrira dentro de si. Mas a comodidade de ser humano é sempre cruel com ele mesmo. Levantou-se num suspiro, seu ombro caiu, seu choro já era ofegante. Algo acontecera com aquela menina, já não era mais uma menina. A chuva a fez mulher. Deixara cair de sua mão trêmula as folhas secas que pertenciam a beleza esquecida, tirou o tênis, necessitava sentir a frieza que tanto esquentou a sua alma. Caminhava sem compasso, quase não piscava os olhos, quase não pertencia a esse mundo. A água batia queimando o seu pescoço arranhado, o sangue lhe dava prazer. O mundo deixou de ser o seu abrigo, era preciso inventar uma nova espécie de gente. Então se recriou. Mas era uma recriação passageira, ela só precisara mudar enquanto estivesse na chuva, enquanto seu corpo levitava o gozo que a alma escondia por travessura. Só que a chuva um dia teve que parar e ela voltar para casa. Em frente à casa só se podia ver a roupa molhada, a dúvida de abrir a porta ou a vontade de fugir de vez. No entanto, seria demais para ela descobrir aquele desfecho.

(Teresa Coelho)22/ 02/ 2010

sábado, 30 de janeiro de 2010

O Gosto das Cerejas

Eu não pude evitar, eu nunca quis evitar. Eu sempre soube. E saber foi ter na vida um poder de culpa. A partir de hoje eu me abandono, e quem abandona, jamais terá paz até reencontrar o que se deixou ir. Sim, eu sei. Mas eu permito me amargar mais um pouco no fim dessa madrugada... Eu não senti mais o gosto de cerejas, eu queria ter o gosto delas, não o gosto que a gente sente, mas o gosto que elas sentem. Eu poderia me abandonar todas as noites, que não iria mudar o motivo desse abandono, porque ele não existe. Ele não existe enquanto você também existir dentro de mim. Nenhum vazio vai me cobrir como a sua ausência me cobre, nenhuma palavra vai mexer tanto comigo como a sua indiferença mexe, nenhum motivo me fará mais amor, do que você. Desde que você saiu da minha vida, eu nunca mais comi cerejas, na verdade, você nunca entrou. E no momento que eu me deixo ir, no momento que me deixo ser, a liberdade de nada não funciona. Eu deixei tudo que existia de bom em mim, ir com a sua felicidade... Eu mantinha você todo o tempo dentro da minha alma, ninguém podia te fazer mal. Mas você foi embora, e como numa história estúpida de corações partidos, eu paro por aqui de falar sobre nós. Uma coisa que nunca houve entre mim e você: um começo.

(TERESA COELHO)
26/01/2010