sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Aqui

É como ser a parte do sêmen apodrecido dentro de um anjo. O sol derrete meus dias de liberdade, mas eu não sou livre. E se eu tivesse nascido do lado oposto do tempo? E se o tempo existisse no lado oposto da vida? Essa tarde eu não consegui desistir. Quando eu aprendi a flutuar, descobri que meus pés só funcionariam quando eu parasse de chorar. Flutuar anestesiou meu desespero, mas não limpou minha sexualidade. Você tem flores que se amam, e elas não escolheram, mas estavam ali, vivas. Eu estou viva.

Teresa Coelho
23/12/2011

sábado, 19 de novembro de 2011

Por que simples

Até quanto é profundo ser simples?
Entender a paz que eu tanto busco pode parecer superficial
É superficial o profundo?
Existe algo concreto por dentro do vácuo?
Não quero mais questionar
Mas o impulso vem dessa melancolia
Vem do vácuo indefinido
Da música da tua cor transbordando pelos meus olhos
Das coisas que se afastam durante a vida
Como quando uma parte tão significativa
Só representa mesmo uma parte...
Um dia, todas as partes incompletas se juntam
E enquanto você transborda cor
Eu vou juntando meus pedaços nos seus sonhos
Os mais densos e simples
Simples é profundo...
Você foi a coisa mais simples que eu já senti.

Teresa Coelho
19/11/2011

sábado, 5 de novembro de 2011

Preto e branco e azul

Sou tua menina em preto e branco
Roubo tua atenção mostrando o sol
Que fica de cabeça para baixo nos teus olhos
Faço carinho desajeito nos teus cabelos
Esperando minhas mãos desparecerem no teu cheiro
Eu me agarro a qualquer vulto teu
Pra colar minha poesia na tua agonia
Segurando nossas mãos na parede fria
Te levo pra perto de onde teu coração bate dentro de mim
Sou teu amor azul, passando em preto e branco.

Teresa Coelho
05/11/2011

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Afinal, o céu

Afinal, para que lado fica o céu? É fora ou dentro da gente? Subindo ou descendo? Se as estrelas não estão no céu, para que serve o céu? Por que quando a gente fica de cabeça para baixo o céu não muda? O que muda? Por que está todo mundo mudo? Se ele não existisse, qualquer outra coisa também seria céu? Onde vão parar as estrelas enquanto a gente não sonha? Afinal, não gosto de falar sobre o céu, mas hoje, ele tornou-se a única companhia que faz sentido não entender.

Teresa Coelho
28/10/2011

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Barco

Em mim não há a parte limpa que teus sonhos buscam; nasci com a realidade prostrada pedindo por compaixão. Já conheço as dores, as partidas, e cada palavra que nunca proferi por saber que alguém sempre iria colocar meu coração do avesso, só por ser eu a única opção, dentre os vultos, que não juraria amor eterno. Sou um barco velho que repintaram para nunca mais atracar no tempo. Sou feita de silêncio, e não há encanto no silêncio para quem procura a beleza macia, mas sou intrínseca quando flutuo sobre teu corpo e crua quando teus sentimentos buscam ser reais sobre o meu.

Teresa Coelho
25/10/2011

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Etil-fenil-amina

Vejo o tempo encobrir teu rosto; quantos amores tu tiveste antes de desembargar em meu corpo o teu destino já grisalho? Não é o fardo que aniquila meu cansaço, é a contração dos meus seios nesse encontro breve, e eterno, sobre tuas costas. Definha na luz tua acidez branca, não obstante, colo minha língua no sal das tuas pernas. Sou tua, e não só tua como também de uma parte que se esvai do teu sorriso quando não existo a ti. Tua como a parte toda que te quer para refazer o sol esquecido na memória ferida de nossos azuis passados. Só tua, e não mais que tua.

Teresa Coelho
07/10/2011

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Por enquanto

O tempo preso à sua mão penetra minha pele, como se tentasse solver o instante que nos encontrou tardiamente. Mas o que é tarde quando há um encontro? São as suas cores que não me deixam partir. Elas murmuram meu nome sem eternidade, não prometem nada, e eu sei que estarão aqui quando eu perder a voz... Esse caminho não pode ser oposto se pudemos nos cruzar. Enquanto os olhos estiverem refletindo no mesmo lugar, não vai importar a posição que a vida seguir, porque meus olhos já escolheram suas cores incertas. E foi por não saber que seria você, que eu escolhi.

Teresa Coelho
27/09/2011

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Última de agosto

Não pude escolher o sol que iria brilhar por último quando todos se foram, e apenas as sombras entre duas camadas do ponto de partida puderam me escolher: a distância delas. Você vem depressa só para dizer “vá com calma, porque além de tudo, o nada não existe mais’’; mas é você, é você que não está sabendo existir além desse nada. Quando estivermos dançando entre o mesmo líquido que geme dentro da pele, não me deixe sair mais, deixe que eu morra no mesmo fluxo, do mesmo fluxo... Absorva! Eu não quero parar só porque tudo parou, eu não termino onde você se desfez de mim. São duas distâncias, e é esse o fim de uma história paralela: não se tocam. O que terminou foi minha projeção, a música continua... E eu vou voltar para dizer que ‘’eu fui com calma, porque além do nada, o tudo não existia mais”.

Teresa Coelho
30/08/2011

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Vem

Eu que não sei nem a metade do que você gosta de sentir, mas hoje queria saber o que faz o seu sorriso nascer. Queria descolar o suor da sua pele dentro do meu corpo, e todos os nossos fluidos, guardar na essência que tem o seu cheiro. Cola teu destino na minha porta, eu perdi a chave desde que você apareceu sem motivo na minha vida. Apareça sem nada, eu quero ter o seu colo para curar o nosso coração. Eu posso colecionar o azul se isso lhe fizer feliz, eu posso ser azul para lhe fazer feliz. Vem ver o sol, as pessoas, as flores, a chuva, os pássaros, o tempo passando, comigo. Me deixa apertar sua mão e beijar o encanto que você esconde. Vem de repente, sabendo que eu estou lhe esperando.

Teresa Coelho
22/08/2011

sábado, 13 de agosto de 2011

Desfiz o laço

Desisto de colorir esse azul tão sem graça, seu laço é frouxo, não há delicadeza quando você desvia o olhar para mim, não há sequer eu, nesse olhar. Farei de mim objeto de uso cortante, que bebe sonhos em volúpias, soluçando e desacreditando de sonhar. O que há de errado em ser por inteiro sempre a metade de alguém? Deixa-me lamber o espelho que lhe quebra a verdade. Mas é isso que eu me sinto: pausas que doem. E não há mais nada que me faça prosseguir, assim sem pausas, só com meu coração batendo solto, e meu.

Teresa Coelho
12/08/2011

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Nudez sob o céu

Achei que pudesse transpassar a vida que separa o reflexo do vidro
Fomos duas peças intransitáveis no sol
Sob o sol só as promessas nuas sobrevivem...
Tentei encontrar dentro do amargo o que se foi enquanto eu desenhava meu medo
Tentei colar nossos medos...
O abandono suposto do beijo borrou o desenho
Desenho que nunca escapou de sonhos...
Escapa rabiscos de sal e dor dos meus olhos
Só eu fiquei nua sob o sol
E sob a chuva...
Meu fardo é não saber dançar enquanto você se despoja leve no céu...
Ofego, ofego, ofego...
Até que falte ar e libido
Vou ofegar minha vida alimentando meu coração novo e cansado...
E até que haja alma para despir
Espojarei meu caos de estar completamente nua sem que ninguém perceba...
Porque ninguém quer perceber quando o que se oferece
É um pouco de paz, problemas e amor.

Teresa Coelho
29/07/2011

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Pedaço

Acordo desmanchada por fora, por dentro é quase uma falta de tinta. Acabaram-se as misturas, o colorido, o tecido. A espera é muda, mas você sabe que eu estou gritando, só você sabe o quanto eu continuo gritando... Estar em lugar nenhum é estar correndo atrás e através de mim, não há ponte que me ligue à concreta, absoluta e transparência leveza. Sou pesada por estar viva. E esses pedaços que vão decompondo o amor talvez não precisem mais de você, precisem de mim. Mas eu, onde estou? É como se eu fosse sumindo sem ser mais minha... Um pedaço a parte, um pedaço inteiro em pedaços.

Teresa Coelho
01/07/2011

domingo, 12 de junho de 2011

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''Até onde bate um coração? Aonde vão parar os ecos? Os ecos que não querem mais ouvir a própria dor.''

Teresa Coelho
12/07/2011

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Guardei

E eu apertei seu corpo com tanta força, como se tentasse resgatar qualquer momento que estampasse meu amor declarado. Contornei com os olhos, com a boca e os dedos sua tatuagem, gravei em mim nossa história. De alguma forma eu quis guardar você de leve, porque de leve foi como você também se foi... Saberia que seria assim: eu só existia em você enquanto havia motivos para eu existir, mas nunca precisei de motivos para ter você em mim. E nunca terei motivos para não ter. De leve a gente aprende a amar, e a esquecer...

Teresa Coelho
08/07/2011

terça-feira, 24 de maio de 2011

Restou

Meu pranto é não saber esquecer que toda essa história já findou num desencontro amargo no qual só o meu desespero ainda te procura. Há você nas coisas mais repartidas da minha vida, enquanto nossos corpos seguem por marés opostas, eu piso descalça na areia que afunda minha roupa, mas deixa flutuar toda mágoa. Enforco o perdão estendido nos seus últimos carinhos e me sufoco sem perdão por não te perdoar. Valsa triste a dos corações que desatam sem chorar. Meu disfarce é o tempo, minha nudez é todo o resto.

Teresa Coelho
24/05/2011

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Não vai mudar

O sal que escorreu no meu rosto ficou compactado nessa linha que me separa de você, eu não consegui limpá-lo. Você me dói como quem desconhece a própria dor. Tão longe e tão perto de mim, que sempre vivi com essa angústia infinda, minha boca perde o rumo lembrando a tua acidez. Já fui a becos, botecos, tráfegos procurando alguém que, mesmo distante, me deixasse nesse estado de estar completamente sufocada de amor. Acompanho calada ao que se passa na vida, às vezes choro, grito, berro, mas não quero ninguém comentando que eu não me importo com nada, além de você. Não importa se tem uma cratera no meio do mundo matando os seres humanos, se dentro de mim há outra maior e pior que, não mata, mas inibe minha vida. É que eu não sei me declarar sem dor. Vai passar, mas eu queria muito você para ouvir respirando, guardar o cheiro, confessar baixinho que esse amor é prá sempre, observar as mãos sem nenhum motivo, abraçar e fugir de tudo. Aliás, essa noite você poderia pelo menos fingir que também pensou em mim e queria me dar boa noite.

Teresa Coelho
13/05/2011

terça-feira, 10 de maio de 2011

Nostalgia

Saudade de sorrir sem pensar no que tem dentro do coração.

(Teresa Coelho)

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Todas as cores

Teu corpo suado no meu corpo nervoso, que corpo que corpo? Tudo se limitava no cubículo que cabia ao tatear desenfreado das mãos agonizantes e o medo de cair, cair uma dentro da outra. Dimensão. Pausa. Silêncio. Não pude voltar a mim desde que não saí de dentro dos teus lábios que esmurram minha frigidez sem graça, me perco envergonhada no teu cheiro. O jeito que tocou minha palidez foi sublime, nossa timidez não teve cor. Mas quem precisava das cores quando se tinha só a tua cor? Quem se importava se o céu estava lá ou não? Ele já estava submerso em cada poro que se arrepiava... Eu era cada poro e você cada arrepio. Nossa pele, num futuro amor.

Teresa Coelho
02/05/2011

domingo, 24 de abril de 2011

Novos olhos (clichê)

Amor? Não, não mais. Seria dor? Sim, mas só na superfície dos olhos. Talvez seja saudade... Saudade e essa mistura de egoísmo, antíteses e urgência de viver. De vida. Embriaguez em novos olhos. Sim, estou embriagada em novos olhos. Minha urgência agora é outra, minha paz agora é outra. Sou a mesma em outra pessoa. Dá-me tua respiração e eu te darei todo o meu fôlego.

Teresa Coelho
24/04/2011

domingo, 17 de abril de 2011

Última

Viver esses últimos meses tem sido como abortar qualquer passagem de luz, horizonte ou esperança. Fica nos poros da pele o suor da dor. É como se uma mão arrancasse meu coração através da boca e ele continuasse batendo por fora, nessa mão desconhecida. Por dentro fica oco, mas dói ao ver que ele ainda bate, mesmo sem vida. Antes de você eu não me sentia tão pequena, não perdia tanto tempo procurando uma maneira de sobreviver ao invés de viver. Estou sobrevivendo, apenas. Cuidar do que ficou espalhado nas fotografias é inútil, é ousar lembrar demais, é se acorrentar no pouco que restou. Mas nada restou para me manter em paz aqui... Vou ler meu último livro, ouvir minha última música, vestir minha única roupa, beber meu último espetáculo de silêncio, deitar com uma última-qualquer pessoa e não acordar mais como uma última lembrança da sua vida. Defino minha dor: continuar.

Teresa Coelho
17/04/2011

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Menino da barraquinha

Todas as terças-feiras ela saia à tarde de casa direto para o balé. Sempre tão feia e esquisita, nem percebia que estava de rosa e ainda era uma criança. Mas tinha um menino que atrapalhava o caminho dela, feio também, mas ela continuava sem perceber. Queria conhecer como era juntar duas coisas feias, de mundos tão diferentes e de corações tão vermelhos ainda pelo pouco tempo de vida. Ele não sabia que ela existia nem que tinha sentimentos, só que a menina era criança o suficiente para amar pelos dois. E amou. Entregava cartinhas dizendo que era uma mulher ruiva e muito magra, quando era só sem formas físicas e cabelo sem graça. Pediu o menino em namoro sem saber, escreveu o nome dele no diário com páginas e páginas de solidão; a letra era feia também. Ela sempre teve letra feia. Um dia ele chamou a menina de linda... As bocas se tocaram, ela com pureza, ele nunca descobriu ao certo como se sentiu. A língua dele rompeu o hímen do amor, do amor que ela jamais tivera provado, mas não só a língua, o rosto, a voz, o calor, o cheiro, o novo. E não sabia a vida, ou talvez soubesse que agora ele estava levando toda essa pequena e eterna história para debaixo da terra. Como ia saber a menina se tudo o que ela viveu nesses dias iria apodrecer junto dele ou iria ficar vivo dentro dela? Na época eles sabiam, mas hoje fica flutuando, esquecido no tempo, no adeus e no que nunca pôde acontecer.

Teresa Coelho
11/04/2011

sábado, 2 de abril de 2011

Dor, dor, dor

Todo esse amor que agora é mais dor que lembrança, é um aborto que morre e sangra todos os dias dentro da vida que se foi amputada de outra vida.

Teresa Coelho

segunda-feira, 28 de março de 2011

Sonho

Tudo é pó e a solidão fica meio ensolarada enquanto eu choro o que não reproduz mais tinta no papel. Toda manhã, não sei mais o que me mantém disposta a encarar o rosto surrado no espelho, é como comer um pão mofado. Vou sentar mais uma vez perto de uma vida que deixei para trás, quem sabe um dia eu levanto e saio correndo de novo em busca de velhos sonhos. Quero trazer espadas, flores, bolo cru, sujeira em baixo da cama, brinquedos quebrados, cheiro de gato, sorrisos, bruxas no espelho, fugas e o para sempre. Não sei o que fazer das coisas que não vivemos nem do amor que não acabou. Desaprendi a deixar de amar. Seu colo falhou no meio da estrada e minha cabeça caiu no chão muito mais forte que antes... Sopro sem ermo, vida sem palco, amor sem fim, luz que vai sumindo aos pouquinhos dentro de tudo que passou e não valeu a pena.

Teresa Coelho
28/03/2011

quarta-feira, 2 de março de 2011

(Perdoe e volte e fique)

Diabolicamente expeliram minha fantasia de anjo nu em cima do sorriso que me fazia viver. Picotaram, queimaram e jogaram esfregando no rosto mais puro do mundo meu sangue apodrecido. O corpo vestido de criança, culpado de tudo. Existe ainda alguém para aliviar essa sensação que queima os ossos e fadiga os sonhos? A nudez do anjo não teve integridade e nem ao menos soube limpar o sorriso que lhe fez viver para desenferrujar um pouco esse desabafo, não triste, mas completamente morto. O céu vendado e a falta de sono, diga-me Deus, por onde mais poderão sangrar meus fluidos tão secos e amargos desta paisagem vazia e estreita que se tornou meus dias, minha vida e o que eu sou? Destruí a melhor parte da história do anjo e do sorriso: o reencontro. Mas que anjo? Que anjo?! Eu gostaria que a boca dela tivesse sorrido mais um pouco antes de partir. Já não posso mais ecoar o que se foi despido enquanto eu fechava os olhos e não conseguia mais ouvir o barulho da sua risada, já não posso mais dormir por cima dos meus seios com urgência e leveza. Não há como sentir meu corpo se ele não vibra mais por nada, não há como sorrir, não há como terminar isto... Não há nunca mais o amor.

Teresa Coelho
02/03/2011

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Espaço vazio

De tarde chovia sem trégua, a goteira no rosto dela era o único som fora o da chuva. Foram-se os pássaros, os cachorros, os carros na rua, tudo estava quieto, morto... confuso. Alice abriu os olhos, mas preferiu afogar-se de pingo em pingo a levantar e lembrar que acordou no dia errado. No dia errado pro amor. Levantou-se nua, frio nas pernas e calafrios, ainda um pouco embriagada, não quis ver o dia, não quis se olhar no espelho nem sair do quarto. Sentou no chão morto e chorou, não, não chorava, soluçava sem compasso, sem cautela, com dor. Não conseguia fingir, mas também não podia fugir daquele dia. Achou o telefone e com a visão embaçada tentou, até lembrar-se dos números:
- Por que você também não acordou com a chuva?
- Porque não quis.
- Hoje eu preciso te ver.
- Hoje não dá...
- Nunca tem tempo pra mim.
- Você nunca me dá espaço para eu sentir vontade de ter tempo prá você.
- Eu te sufoco?
- O tempo todo.
- Quero te abraçar, to com frio.
- Já disse que não quero mais falar sobre isso.
- Eu só disse que queria te abraçar...
- Você sempre quer mais. Jamais eu iria te saciar apenas com um abraço.
- É porque eu nunca tive o suficiente...
- E o que mais pode ser suficiente?
- Você seria suficiente. Você de verdade na minha vida, para me abraçar.
- Já disse que não quero falar sobre isso!
- Precisava te dizer tantas coisas hoje...
- Você nunca fala. Cansei de esperar você querer falar, esse silêncio nos desgastou muito...
- Um dia você prometeu que ia cuidar de mim e me ensinar sobre a vida.
- As coisas mudam. Nós mudamos. Acabou, acabou!
- Dentro de quem acabou? Quando alguma coisa pode acabar? Fale-me, porque eu não consigo sentir.
- Você acabou dentro de mim. Eu não te sinto mais quando ouço sua voz.
- Eu te amo.
- Eu vou desligar, preciso ir...
- Feliz aniversário.
- Adeus.
Alice não conseguia desligar. Ficou escutando a alma queimar junto com o barulho da linha do telefone. Olhou pro seu corpo nu e pálido, abandonado e feio como a alma que queimava. Sofria porque nunca soube dar pouco, nunca soube pensar mais nela, porque nunca quis amadurecer. ‘’Até quando, até quando?’’ perguntava olhando pro telefone caído e sua vida jogada fora.

Teresa Coelho
20/02/2011

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Atrevida é alma que não se apresenta

''Atrevida é a alma, que não se apresenta.''

Teresa Coelho
2009

Reflexo

"Está ficando muito triste isso AQUI.
Não queria que minha semelhança fosse apenas espelho...
Mas parece que todos só me enxergam através dele...
Mesmo comigo, esse reflexo não tem vida...
Fico como uma imagem...
que se esvai, levando-me...”

(Teresa Coelho)
2009

Além

"Quem somos nós no abreviar do futuro que não chega?
Nossa morte, nossa dor...
Parecem ser as mesmas!
Deixe-me entardecer na pólvora...
Já não sinto vontade de correr
Só queria pular...
Mas para onde?"

(Teresa Coelho)
2009

domingo, 30 de janeiro de 2011

Olhos apagados

Um cenário frio com cores quentes; era só o que via e sentia no coração da menina com os olhos negros e opacos. Nada estava mais distante naquela tarde de que o descompasso de sua respiração com as palavras. Tudo o que ela queria era falar. Eu juro que era só isso. Mas o passado dela, o cheiro e a boca de seu amor tão de perto a fizeram engolir folhas secas com areia. Porque perto de toda sua alma e da falta de palavras, estava o corpo que ela nascera, vivera e agora estava morrendo. Morrendo do corpo que mais amou durante sua curta vida. Enquanto as folhas com areia rasgavam sua garganta e sugavam sua vida, o mundo não parava de inchar. No mais as bocas se tocaram, se usaram, se renovaram. A menina dos olhos apagados conseguiu sorrir... Ela conseguiu sorrir!Só que o filme acabou. Ela foi embora e nunca mais sorriu.

Teresa Coelho
31/01/2011

domingo, 23 de janeiro de 2011

Nunca estive

Acho que eu não existo, e se existo deve ter alguma coisa mofada na minha essência, ou eu nunca consegui me encaixar em mim. Talvez eu esteja só dormindo ou qualquer outra coisa que não pertença a existir e estar viva. Mas não digo que não estar viva é estar morta, a morte não existe, nem a vida. Eu não quero que elas existam. Queria ser uma folha e cair de repente; cair em cima de um casal de namorados e atrapalhar o beijo, provocando um sorriso. Atrapalhar com leveza e calma o amor. Despedaçar no chão e sumir dentro da terra. Preciso que a terra me engula e me chupe até o estado do êxtase de minha inexistência. Não quero pertencer a nada nem a nenhum sentimento que possa me corroer; amadurecer desgasta e deixa as pálpebras pesadas. E ainda tem o seu cheiro, quero que ele deixe de existir também, mas não, pensando melhor quero esquecê-lo. Lembrar dói. Não sei pedir pouco, não sei exigir pouco, não sei amar pouco. Minha carência não tem dono, me perdoe, mas quero seu corpo e também o de qualquer amor que me aparecer por caridade. Sou uma imaginação de carne que anda, fala pouco, olha tudo e odeia todo mundo com a mesma intensidade que ama. Existir para mim é o mesmo de não existir. Estou aqui, mas também não estou.

Teresa Coelho
23/01/2011

domingo, 16 de janeiro de 2011

Repus
Refeita
Enfeita
O toque nos pêlos
Que aos poucos excita
E grita, parando de doer...
Treme, treme, treme
Ai, a vida!
Ai, tudo que tem vida!
Respira
Inspira
Transpira!
Gira...
Girou nos meus braços
Mas agora se foi
E eu me fui também...

(Teresa Coelho)

domingo, 9 de janeiro de 2011

É só

Estava cavando a areia que se movia com o vento,daí o amor passou e ficou grudado na sujeira de minhas unhas que cavaram, cavaram, cavaram... até se quebrarem e apodrecerem. E junto do meu corpo estavam: o mar, as unhas quebradas, os olhos revirados e o amor apodrecido. Nada mais.

Teresa Coelho

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Não há...

Por que o corpo dói tanto? Há quanto tempo meu sorriso perdeu a dona? O que é dormir em paz? Meu travesseiro tem a marca do meu rosto, do hálito quente tampando a dor, do nariz prendendo a respiração, da escuridão dos meus olhos. Não tenho forças para olhar a esperança passar devagarzinho no devaneio dessa amargura. A vida fede. O rosto que me persegue mutila meu suor, ensangüenta minha boca, sufoca meus pássaros desencantados, dispara no meu ventre e morre longe do meu peito. Não há encanto entre duas almas que não têm tempo para conhecer seus próprios encantos. Acabou, acabou, acabou... Meu sofrimento é o desespero de um dia te encontrar de novo e não saber deitar no teu colo, não saber querer teus beijos, não caber no teu abraço... e continuar ainda assim, amando.

Teresa Coelho
08/01/2011