sábado, 28 de agosto de 2010

Exposto

Parece que minha vida cresce para dentro, se enraizando na minha genética enlodada, primitiva, crua e ensangüentada. Minha visão ressecou por esses dias, foi tomando forma de ardência molhada, molhada da urina que escorreu incessantemente pelos meus olhos. Não é cedo para conhecer o que faz sentido. Ai! Parece que viver rasga um pouco nosso lado esquerdo... E continua rasgando. Minha cabeça gira, gira, gira, não para de girar enquanto você grita comigo, enquanto você descostura a paz remendada. Faz café fraco de manhã e bebe morno prá esquecer que tem o resto do dia para pensar no que eu me tornei... Mas é o que eu sempre fui. Porque procuro no mundo o seu abraço e acabo machucando meus braços de tanto me abraçar; é vazio. É frustrante. Cada pedaço dessa casa desmonta quando nossos olhares se cruzam. Dá medo tocar na minha essência? Dá nojo saber que essa verdade toda é minha própria vida? Falta força para chorar perto do seu abrigo, que já não me ampara de laços indeléveis e beijos quentes. Nossa relação virou adeus todas as manhãs. Eu estou me despedindo agora, minha dor não é mais virgem.

(Teresa Coelho)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Cada Batida

Meu corpo caído no teu corpo e o teu coração faz: tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum tuntum...
Não consigo mais segurar meus braços fardos, presos aos teus...
Deslizando no suor que expiramos ao mesmo tempo, que nos molha e escorrega no nosso sôfrego desespero de amar e gritar e entrar na necessidade barulhenta e delirante da noite...
De repente provo teu contorcionismo, sobreponho minha boca perto, quase dentro do teu ouvido e expurgo toda a infinidade de prazer num desabafo só... Tem nos teus olhos um pedido de desculpa por existir e um suplício de afeto por ter paz no inferno.
Teu corpo caído no meu corpo e minha alma sussurra: não vá embora nunca mais.
Tum, tum, tum...

(Teresa Coelho)
19/08/2010

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Luto

E vai ser sempre assim, a vida sai arrancando pedaços da gente de uma vez só...
Não há música, nem vento agora. Só escuto as batidas frenéticas da minha mão tentando achar um pouco de paz no meio dessa bagunça...

Teresa Coelho
09/08/2010

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Incompleto

Cada pedaço cadavérico do que eu sinto, faz desse caminho um encanto por cegueira estraçalhado pelos pés e engolido pelo cansaço do meu ombro; o céu está aberto... Sangrando nuvens roxas e estrelas repartidas, enquanto a outra parte das estrelas inspira fugir dos nossos olhos. Elas não querem olhar como um último suspiro de alguém feliz antes de voltar prá lama. Nessa imundície eu choro com minhas fitas vermelhas caindo do cabelo, a roupa surrada, minhas mãos ressecadas, meu cheiro de corpo escondido, minha inconseqüência contínua, a desordem dos meus sentimentos, o impulso dos meus dias... Os meus quinze anos vazios de alguma coisa que ainda não desvendei, arranham meu coração e tapam minha boca o tempo todo em que eu estou comigo mesma. Esse pó que cai do céu enquanto escrevo, é o mofo das nuvens, é o sol em farelos de agulhas pequenas, feitas por raios luminosos que me penetram a consciência, deixando pesada, pesada, pesada... Meu rosto sereno se desmontou. E quanto vale a calma quando nosso corpo quer espírito?

Teresa Coelho
06/08/2010