quarta-feira, 25 de maio de 2022

sessão 13/04

 não consegui sair de casa

estava tudo quente e muito vermelho


liguei pra terapeuta desconcertada

porque a culpa era minha

a dor incrivelmente estável 


dessa vez quis muito

verdadeiramente 

cancelar a terapia e a sanidade

mas porque sou covarde

continuo estável 


precisei transferir pro rosto dela

todos os espelhos humilhantes e

masculinos 

sem performance


separei a humilhação como o ato

que deveria ser contado para quem

não estivesse presente


entendi mais uma vez que meu rosto

é um estranho

 imprevisível 

o desconhecido 


eu acharia bonito 

muito bonito se esse

rosto

não fosse real mas 

uma narrativa sobre a cura


mas ele continua a insistir 

que não era para estar aqui

e pede para que eu repita

como se fosse uma câmera 

decisiva


"este rosto não é meu

este rosto não é a minha narrativa

este rosto aparece apenas

como um reflexo que me dizem ser

a realidade"


a terapeuta estava apressada

olhando compulsoriamente 

pro relógio que determinava

o tempo que eu poderia

confiar em alguém