segunda-feira, 14 de junho de 2010

Entre a casa, vísceras e confetes.

-Vísceras e confetes. Disseram entre si. Não havia paz naquele lugar, o chão escondia o peso dos pés e as paredes exalavam a poeira dos corpos imundos; sedentários de prazer. O ácido que saia da casa afagava minha dormência e perfurava meu semblante. Minha casa interior. Nela estouravam goteiras em todos os cantos, saíram e fecharam a porta por fora, por isso a cada dia o mofo só aumentava e a luz se tornava uma confissão antiga... O acaso banalizou sentimentos que eu não pude viver. Os confetes viraram papéis repicados, pisoteados e enlameados por sapos, baratas, formigas, pessoas, cinzas de cigarro e garrafas. Virei saliva que difama a rua. Estou sendo demolida por fazer barulho e tentar desabar minha morada interior; acabei desabando de qualquer jeito... E despenquei de mim, do meu carnaval, da minha eternidade. Fui me desmontando, me achando, me matando. –Eu desmontei. Disseram entre si. Cada um com o seu silêncio, razão e ódio. Mas o desejo era dos dois, eles se pertenciam a partir daquela despedida. O mesmo desejo, a mesma carne, a mesma boca, a mesma culpa. –Entre vísceras. Disseram entre si e descansaram.

(Teresa Coelho)
14/06/2010

Um comentário:

  1. Fazia muito tempo que não passava com calma por aqui,encontrei outra Teresa...

    "e a luz se tornava uma confissão antiga"
    Linda paisagem...profunda,aguda,desconsertante...


    "Virei saliva que difama a rua. Estou sendo demolida por fazer barulho e tentar desabar minha morada interior"
    Quando fazemos da escrita um hábito,uma extensão de quem somos,criamos nosso próprio estilo,e você Tê,já tem o seu aos 15 anos!nessa estrofe fica clara sua ampla percepção emocional...e como já se classifica neste mundo...já sabe que o preço que pagamos por esta verdade é destruidor.
    "E despenquei de mim, do meu carnaval, da minha eternidade."
    Sabe-se efemera quando o verso nasce entranhado nos mergulhos,o pequeno e grandioso instante de felicidade.

    "eles se pertenciam a partir daquela despedida"
    A dimensão de que a separação é outra forma de amor.

    parabéns minha linda

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