domingo, 30 de janeiro de 2011

Olhos apagados

Um cenário frio com cores quentes; era só o que via e sentia no coração da menina com os olhos negros e opacos. Nada estava mais distante naquela tarde de que o descompasso de sua respiração com as palavras. Tudo o que ela queria era falar. Eu juro que era só isso. Mas o passado dela, o cheiro e a boca de seu amor tão de perto a fizeram engolir folhas secas com areia. Porque perto de toda sua alma e da falta de palavras, estava o corpo que ela nascera, vivera e agora estava morrendo. Morrendo do corpo que mais amou durante sua curta vida. Enquanto as folhas com areia rasgavam sua garganta e sugavam sua vida, o mundo não parava de inchar. No mais as bocas se tocaram, se usaram, se renovaram. A menina dos olhos apagados conseguiu sorrir... Ela conseguiu sorrir!Só que o filme acabou. Ela foi embora e nunca mais sorriu.

Teresa Coelho
31/01/2011

domingo, 23 de janeiro de 2011

Nunca estive

Acho que eu não existo, e se existo deve ter alguma coisa mofada na minha essência, ou eu nunca consegui me encaixar em mim. Talvez eu esteja só dormindo ou qualquer outra coisa que não pertença a existir e estar viva. Mas não digo que não estar viva é estar morta, a morte não existe, nem a vida. Eu não quero que elas existam. Queria ser uma folha e cair de repente; cair em cima de um casal de namorados e atrapalhar o beijo, provocando um sorriso. Atrapalhar com leveza e calma o amor. Despedaçar no chão e sumir dentro da terra. Preciso que a terra me engula e me chupe até o estado do êxtase de minha inexistência. Não quero pertencer a nada nem a nenhum sentimento que possa me corroer; amadurecer desgasta e deixa as pálpebras pesadas. E ainda tem o seu cheiro, quero que ele deixe de existir também, mas não, pensando melhor quero esquecê-lo. Lembrar dói. Não sei pedir pouco, não sei exigir pouco, não sei amar pouco. Minha carência não tem dono, me perdoe, mas quero seu corpo e também o de qualquer amor que me aparecer por caridade. Sou uma imaginação de carne que anda, fala pouco, olha tudo e odeia todo mundo com a mesma intensidade que ama. Existir para mim é o mesmo de não existir. Estou aqui, mas também não estou.

Teresa Coelho
23/01/2011

domingo, 16 de janeiro de 2011

Repus
Refeita
Enfeita
O toque nos pêlos
Que aos poucos excita
E grita, parando de doer...
Treme, treme, treme
Ai, a vida!
Ai, tudo que tem vida!
Respira
Inspira
Transpira!
Gira...
Girou nos meus braços
Mas agora se foi
E eu me fui também...

(Teresa Coelho)

domingo, 9 de janeiro de 2011

É só

Estava cavando a areia que se movia com o vento,daí o amor passou e ficou grudado na sujeira de minhas unhas que cavaram, cavaram, cavaram... até se quebrarem e apodrecerem. E junto do meu corpo estavam: o mar, as unhas quebradas, os olhos revirados e o amor apodrecido. Nada mais.

Teresa Coelho

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Não há...

Por que o corpo dói tanto? Há quanto tempo meu sorriso perdeu a dona? O que é dormir em paz? Meu travesseiro tem a marca do meu rosto, do hálito quente tampando a dor, do nariz prendendo a respiração, da escuridão dos meus olhos. Não tenho forças para olhar a esperança passar devagarzinho no devaneio dessa amargura. A vida fede. O rosto que me persegue mutila meu suor, ensangüenta minha boca, sufoca meus pássaros desencantados, dispara no meu ventre e morre longe do meu peito. Não há encanto entre duas almas que não têm tempo para conhecer seus próprios encantos. Acabou, acabou, acabou... Meu sofrimento é o desespero de um dia te encontrar de novo e não saber deitar no teu colo, não saber querer teus beijos, não caber no teu abraço... e continuar ainda assim, amando.

Teresa Coelho
08/01/2011