sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

De novo e sempre

Tenho medo do que pode mudar ou do que pode não mudar, mas ter medo já é uma mudança. Acende na gente essa percepção de que é preciso correr sem os pés e tropeçar no amargo da nossa estrada. Eu estou com medo, e não tenho vergonha. Porque há em mim duas pessoas: eu e meu coração. Esse eu, essa carcaça envolta a genética meio suja, suja da ausência fraternal. De que servirá o mesmo e novo brinde? O tilintar das taças é como romper no tempo algo que foi unido pelo coração. E tudo se confunde, mistura: os sorrisos, os brindes, o pulsar de cada órgão, os abraços, os olhares, nossa respiração, o novo. O mundo está envelhecendo sem saúde, interrompendo todo e qualquer detalhe vindo do céu. A mudez do céu é o reflexo da terra gritando. A paz mora dentro do orvalho das flores. O novo que não sabe envelhecer, não trará felicidade nem tampouco descanso. Estão confusos e ultrajam couro de borboleta, pois não sabem soltar as asas. A partir de hoje, deixem livre as asas de suas borboletas e sejam mais que um ‘’eu’’ e um ‘’coração’’. Unifiquem, voem, renasçam.

Teresa Coelho
31/12/2010

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Anoitecer

Onde está o sepulcro do amor? Eu cavei a noite toda procurando pelo ar que fica entalado na minha dor. Não quer sair, não posso voar além do que você quer que eu seja. Não suporto mais levar minhas lástimas para sua vida nem levantar da vida algo que ela não quer me dá. Meu corpo permanece ínvio, meu caminho não é mais nosso, e o céu ficou incinerado depois de eu ter olhado. Doei os meus sonhos dentro de uma caixa furada. Renuncio a partir desta noite a emoção, mas é só por hoje. Meu abraço corre desprotegido, meu beijo desliza constrangido, meus poros pararam de respirar. Onde está a rima, o ritmo e a fantasia de viver? Naufraguei em seus olhos o tempo, a paz e a bagunça do silêncio, do brilho, do amargo... Meus aplausos esgotaram tanto quanto o por do sol que não vejo mais ao seu lado. Mas não é importante sair à procura da nossa cura, afinal, isso foi só um desabafo do anoitecer com estrelas, ventos, sorrisos soltos e sua ausência.

Teresa Coelho