quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Liberdade

Eu desafino meu coração, as pálpebras e os pés afundados na areia de leite. Desafiei a liberdade chamando-a de minha, mas de quem sou, senão dela? A voz sai repicada e suada. Suei em cima dos seus olhos, eles flamejavam perto da minha boca, mas você tapava minha voz, e eu era sua de qualquer jeito, era o seu medo. Seu grito tremia dos cabelos às pernas, desaprendendo a ler os pássaros que agonizavam sem vôo em nossas mãos, tropeçando em nossos corpos o remorso de não ter culpa. A confusão me distrai, e eu me entrego sem cheiro, sem jeito, sem esperança... Mas não vou crescer nos seus contos, porque minha dor é apelativa e fraca. Vivo das esmolas atiradas por amor, dentro das marcas do vento e da grandeza da indecência, do estrago que meu líquido fez, estancado na sua língua. Nasci na rua, na rua do meu âmago me encontrei sem roupa e minha alma descansava longe de mim, ela dormia aí com você. Puderam dançar a noite toda, a ousadia não mofava mais os abraços, pintaram no chão pegadas feitas de devaneio, choraram com a garganta, despencaram sem asas de tanto esperar... E por uma única noite fizeram da liberdade um suspiro de adeus ao que nunca precisaram viver para saber que era isso o que sempre quiseram.

Teresa Coelho
18/11/2010