sábado, 24 de abril de 2010

Aborto

Um corpo nebuloso
Que escapa
Das mãos.
Sou pecado
Em forma
De amor.
Eu te juro
Infelicidade
Mútua.
Nem sempre
Respiro
Você.
Inalar já
É
O bastante.
Minha morte é
Leve e
Promíscua.
Acontece raramente
Tanto quanto
A vida.
Escapei-escaldada-escalando-e-excretada.
Sou excreta
Abortiva de todo
Ventre.
Por ventura
Me faço vento
E passo.
Passei-passado-passou.
Acabou
Os olhos
Cerraram.

(Teresa Coelho)
25/04/2010

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Carta à única Mãe

Você veio de longe, muito longe. Eu quase não mereço escrever esta carta, nem nada que tenha amor envolvido. Se eu pudesse dizer apenas que te amo mais que tudo na minha vida, talvez já bastasse, no entanto eu quero mostrar que você é mais, sim é muito mais do que qualquer pessoa pode ser. Sua vida é um tipo de mudança na humanidade que flameja feito fogo, vem d’alma e se concretiza feito um sopro intenso e preciso. Sua presença é diversificada em gargalhadas soltas e em loucuras que armazenam o que um ser humano pode ter de mais puro no coração. Quem me dera coincidir todas as belezas do universo com apenas uma qualidade sua, não estou exagerando, nem mentindo, só deixando todos os meus sentimentos falarem mais alto do que a própria razão. Peço desculpa pela falta de cordialidade como filha ou como ser humano que tento ser. Às vezes sou uma companhia feita de solidão, mas me perdoe de qualquer forma, você é maior do que tudo que existe em mim. Só posso estar feliz se você também estiver. Estarei eternamente (inter) ligada à sua vida, por todas as vidas. Porque você é a minha paz, a minha lição, minha amiga, a minha estabilidade, a minha verdade, a minha emoção, minha alegria. VOCÊ É O MEU AMOR INFINITO, É A MINHA VIDA, a compreensão do que é ser filha e ao mesmo tempo mãe. MINHA MÃE, EU TE AMO.

(Teresa Coelho)
23/04/2010

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Dentro de Mim

Um dia nascera de dentro de uma menina duas pessoas. Um homem e uma mulher. Essa menina não tinha cor, nem nome, nem idade, nem família, nem corpo. Não tinha nada; era como um subconsciente ou qualquer espírito vazio. Mas havia criado duas vidas. Para ela ninguém passava de roupas ambulantes ou seres vegetativos. Sua simplicidade era de ser nada. Ser tudo é ser nada. Quem sabe talvez um pouco de cordialidade ou um pouco de teatro para firmar compromisso com aquelas duas criaturas que agora faziam parte dela.
O homem se manifestou dentro do daquele pequeno corpo como um meio mais animal de viver. Era preciso satisfazer aquele canibalismo. Ele invadia as suas vontades mordendo, arranhando, maltratando o corpo. Parecia não querer suportar o fardo da inocência e daquela bondade superficial de querê-lo dentro de si. Aquilo lhe perturbava a não-vida humana, e o seu compromisso era a elevação da alma pelo pecado. Ele desejava pecar no interior dela. Injetar a pouca prova do que representava o amor em seu perfume de defunto. A voz daquela criatura era um grito morto, mais aborto do que feto. No entanto havia nele ainda um medo estigmatizado, toda a fúria era isso, o medo. Mas o que o amedrontava? Sim, a mulher o amedrontava.
Ela era um tipo de olhar que sufocava e lhe deixava em paz de qualquer forma. Era feita de cores sujas, mesmo sendo pálida por dentro e por fora. Sua alma estava envolta pelo tormento que ela sugara da placenta estragada da criadora. Tudo permanecera durante aquele tempo em caos absoluto. De um lado se tinha a paixão, do outro o amor; fúria e calma; medo e coragem; violência e poesia; sexo e ternura; morte e vida.
Existindo de maneira estarrecedora, tudo se transformara em carne e em lamento. TUDO se passara DENTRO dela. TUDO estava nela e era ELA, a menina.
(Teresa Coelho)
22/04/2010

terça-feira, 20 de abril de 2010

A falta do nexo

Quando você passa a viver literalmente dentro de si, a única pergunta que surge na boca é:
Para quê eu tenho que saber quem eu sou?
Nada faz sentido enquanto tivermos respostas. Mas tudo se encaixa enquanto tentarmos algo diferente ao que é inteiro. Falta uma parte minha e essa parte é justamente a vida de tudo que falta conceber. Estou em falta comigo. Não pense que não quis ir ao seu encontro, até que eu fui, mas você não se atrasou... Então cansei de não esperar. Tudo é vazio, alguém já revelou isso?
Semana passada, acordaram lamentando, porque a consciência é pesada. Foram a saliva que julga e queima. Não senti prazer em lamber seus lamentos. Também não sinto mais vontade de escrever sobre isso aqui. Não arrepia, cansa... CANSEI.
Adeus.

(Teresa Coelho)
21/04/2010

sábado, 17 de abril de 2010

Simplicidade

Eu já não suporto essa distância...
Por onde você anda quando não consegue ler o que eu lhe escrevo?
Eu já nem sei como vou reagir a sua presença...
Eu já nem sei se a gente vai ser feliz...
Eu já nem sei se posso lhe fazer feliz...
De onde você surgiu dentro de mim?
Eu já nem acredito que você possa ser real...
Eu já nem peço muito pra você me beber com sede, com muita sede...
Eu já não penso mais em mim...
Um dia você vai me dizer adeus, eu sei...
Mas eu já não aguento mais amar para sempre...
Eu quero amar agora e com você.
Vamos?

Teresa Coelho
17/04/2010

domingo, 11 de abril de 2010

Um Mundo

"Eu queria todas as noites sentir as tuas costas nos meus seios
E poder ouvir a tua respiração ofegar no silêncio das nossas bocas
Queria poder soltar teus cabelos no meu rosto e puxar o teu quadril no meu
As tuas curvas são feitas de sonhos...
Deixa eu te mostrar com quantas cores se faz um arco-íris
Deixa eu te levar para dentro de mim...
Eu queria delinear as tuas pernas com os dedos,
Absorvendo toda a tua intensidade com os olhos...
Escreve em linhas tortas o teu sorriso na minha paz
E me refaz!
És um mundo tão inteiro de mistérios...
Tudo que existe em ti, me liberta de mim mesma...
Tudo que existe no mundo, me faz lembrar tua existência constante em mim
Eu quero fugir e provar do teu mundo...
Posso?”

Teresa Coelho
11/04/2010

Farsa

Sou composta internamente por feridas expostas aos meus tormentos
Elas têm o cheiro de cada lembrança que se perdeu na minha memória
Mutilam meu corpo e a minha vontade de não saber o porquê do gosto do gozo
Que sai de um jato através dos meus olhos e das minhas proezas espirituais
Eu nunca realizei um estado existencial de amar involuntariamente
O meu involuntário é não saber quando se ama
Eu me tornei filha de uma vida inconstante
Por isso as feridas que têm cor de metamorfose
Mudam de dor...
Sou conseqüência impura e sutil do objeto atravessado entre mim e o meu mundo secreto
Virei a minha cicatriz interna e a minha dor externa.

(Teresa Coelho)
11/04/2010