Sofia enfeitava os cabelos sem saber o que amadurecia no
toque de suas mãos. Naquela manhã fria, ela sabia que sair do quarto
desmancharia seu penteado – alguém iria descobrir o quanto ela esforçava-se
para não demonstrar sua feiura. Pobre Sofia, tão feia, que não sabia sorrir. Quando
deitada na cama, o mundo parecia girar só para si, as cores surgiam dos olhos
como um choro num grito trépido. Cansada de ouvir tolices sobre o amor, o
perfume, a companhia e a lealdade, decidiu trancar-se num mundo cru – o cru e a
poesia suja agora eram sua verdade. ‘’Quem precisa de beleza quando se tem um
coração doente implorando por solidão?’’, era o que Sofia repetia olhando para
o teto, tentando devorar o choro, enquanto percebia-se, mais uma vez, sendo
devorada pela vida.
(Teresa Coelho)
12/07/2012