segunda-feira, 30 de julho de 2012

Estante


Perco tudo
No mais
Calo-me
Como livros
Empilhados
Mofados
Esquecidos
Nunca lidos
E se me acho
É como abrir
Um livro vazio
Com uma assinatura
Anônima
De um coração
Empoeirado

(Teresa Coelho)
30/07/2012

quarta-feira, 25 de julho de 2012

O contrário do mesmo


O avesso do mundo seria o seu sorriso invertido para dentro de mim. Poesia em silêncio faz cócegas. Coloque suas pernas viradas para o céu, não deixe que as nuvens entrem no seu ouvido – é poeira mágica que embaça o coração. O mundo pelo avesso é soltar balões e ir buscar no quintal de casa. Parece tudo tão mais fácil quando eu corro sobre a poeira branca e encontro a tinta embaixo dos pés, é como repintar um lugar onde não há casas, só rostos esperando por um novo sorriso, e o mundo pelo avesso. Vice-versa.

(Teresa Coelho)
26/07/2012

Última estação


Meu olho é de vidro e ilusão
Cacos de ilusão
Penetram a retina
Afugentam o sangue doente
E escorre pelos meus seios
Escondendo de tuas marcas,
O tempo
Às cinco horas da manhã
Peguei um trem voltando
Perdida na única noite
Que pude despir o céu
E quando o sol apareceu
Já não fazia sentido
Brilhar, queimar...
Sua luz era o que faltava em mim

(Teresa Coelho)
26/07/2012




domingo, 22 de julho de 2012

Maria


Naquele quarto frio, teus lábios se fizeram de quina para uma esquina cega. Explodi na tua boca, enquanto o tempo levava minha voz para longe da tua casa de vento. Cerro a lembrança de tuas costas como um movimento contínuo de olhos vedados à procura da luz branca, que une todos os músculos à alma. Estado líquido de espírito, estado ausente - estar ausente. Sobras de um coração sorrateiro e restos de luz, que o final da tarde interrompe para projetar a ilusão do pôr do sol e dos beijos em farrapos. A Maria do quarto frio tem a desordem de sua vida como uma porta que nunca precisou ser fechada, pois era livre por dentro.

(Teresa Coelho)
22/07/2012

quinta-feira, 12 de julho de 2012

As cores de Sofia


Sofia enfeitava os cabelos sem saber o que amadurecia no toque de suas mãos. Naquela manhã fria, ela sabia que sair do quarto desmancharia seu penteado – alguém iria descobrir o quanto ela esforçava-se para não demonstrar sua feiura. Pobre Sofia, tão feia, que não sabia sorrir. Quando deitada na cama, o mundo parecia girar só para si, as cores surgiam dos olhos como um choro num grito trépido. Cansada de ouvir tolices sobre o amor, o perfume, a companhia e a lealdade, decidiu trancar-se num mundo cru – o cru e a poesia suja agora eram sua verdade. ‘’Quem precisa de beleza quando se tem um coração doente implorando por solidão?’’, era o que Sofia repetia olhando para o teto, tentando devorar o choro, enquanto percebia-se, mais uma vez, sendo devorada pela vida.

(Teresa Coelho)
12/07/2012