domingo, 24 de outubro de 2010

Era ele, era ela

Tudo mundo acharia que seria imoral e que atingiria o ego em putrefação daqueles vermes vestidos de seres humanos. Mas o menino sabia da roupa que vestia, estava nu, e foi nu que saiu de casa para ir ver sua menina, aquela que era sua parte em forma de busca, imensidão, prosa, sutileza, sonhos, canções, abraço, magia, saudade... Olhou-se no espelho e tentou fazer algum contato com os olhos, queria saber se estariam vivos o suficiente para esquentar os dela, então viu que estavam tão vivos quanto o sorriso de sua menina. Era uma tarde chuvosa e quente. Não podia saber se o dia estava calmo ou não, o dia naquela tarde não estava no mundo, estava dentro dele, no mundo que ele queria dar a ela. Tentou sair correndo, mas lembrou-se das flores, daí, onde roubar flores numa cidade tão virgem de poesia? Por isso roubou as menores flores. A chuva atrasava seus passos, talvez por nem saber o que era andar na chuva ou nas nuvens, só queria vê-la.Avistou a porta, a porta era para ele naquele momento o último e ao mesmo tempo o primeiro degrau da escadaria. Segurava as flores tão fortemente que arrancou uma pétala, suava na chuva. Aproximou-se da porta e abriu-a... Lá estava a sua menina, com o sorriso que vivia, com os olhos que não precisavam ao menos abrir-se para aumentar os batimentos cardíacos dele. De repente o abraço. Não sabiam se corriam ou se ficavam se entreolhando pelo resto do dia, da vida. No entanto, ela veio com todo o corpo, toda a alma, respiração, desejo e se apertou contra o corpo dele... Ele podia sentir cada curva dela, tocava-a desenhando a ânsia de tomá-la para si. Os rostos finalmente se encontraram com fome, desordenadamente, um invadia a vida do outro e pediam licença com as línguas, as mãos e os olhos. Acharam enfim onde se fabricam as cores, os sons e os arrepios. Se encontraram, se traçaram, se tocaram, se tornaram o menino dela e a menina dele. Assim: com amor, mordidas, descanso e paz.

(Teresa Coelho)
24/10/2010