terça-feira, 1 de junho de 2010

Entardecer

Sinto teu sangue pulsar nas minhas unhas e com o encéfalo rasgo tua roupa, e perfuro tua carne com o meu corpo. Caiu a tarde, e todos os meus delírios escoem para baixo da respiração falha que ofega nesse quarto, extremamente íntima, sem delicadeza, nem compostura. Desfaço-me. Levanto-me tonta de saudade, minha visão embaçada e perdida num branco, na lembrança dos teus suspiros. Suspiros? Eu disse suspiros? Perdão, mas estão na minha insaciável imaginação. Ando por esse cubículo no escuro, tateando a parede gelada até me arrepiar, até me machucar com algum lixo no canto do meu ermo, até cansar de te procurar em mim e em tudo que eu toco. Mas a verdade é que eu nunca canso. Eu vou me arrastar no teu amasso, eu vou implorar pedaços do teu grito, eu vou jogar tuas pernas na minha cintura, eu vou... Eu vou! Tu irás sentir a alma falando e sair quicando pelos poros, envenenada e viva. Viva! Viver é sair descalço e voltar sem os pés. Entardecer é tão triste. Todavia só sei oferecer tristeza e libido, o meu riso vem do acaso. O pináculo da solidão é o meu caminho delimitado, promíscuo, sujo... Sujei-me ao nascer e quanto mais tento me purificar mais inconstante fico. Estou sendo estuprada pela vida e a alma é meu gozo. Disseste que viria me ver ao final de cada dia, por isso te espero no fim de cada noite... Espero.

(Teresa Coelho)
01/06/2010

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