quarta-feira, 31 de março de 2010

Fuga

Tudo quebrado...
O líquido que compõe a vida espalhou-se pelo tapete branco...
Por um instante pude esquecer o que restou do nosso conto misterioso...
Mas o que resta é o que nos faz bem ou é tudo o que não suportamos lembrar?
Sua beleza me fez chorar...
Estou devolvendo você de mim
Agarrando os extremos do que você nunca quis ao meu lado...
Levando em consideração a sinceridade constante da sua inconstância...
Minha verdade não se faz de fugas delicadas...
Necessito sufocar-me do seu desprezo...
Você é quase como quando um vinho tinto cai numa roupa branca...
Sua alma é carnal...
Não existe.
Nossa relação não passa de acordes desafinados
Poesias rasgadas no meio...
No meio que paramos não há começo, nem fim.
Foi isso. Um meio.
Cansei de me entregar a tudo que está em mim
Você deixou um eterno cansaço de mim mesma...
E fugiu...
(Teresa Coelho)
31/03/2010

sexta-feira, 19 de março de 2010

Breve

Eu gosto da palavra nua. Escarrada com desprezo...
Prefiro que me explorem os escárnios que a razão...
E que me arranquem a pele com os dentes do que com mãos delicadas...
Perdi meu sangue enquanto tentava criar minha alma.

(Teresa Coelho)
19/03/2010

segunda-feira, 8 de março de 2010

Declaração Primitiva

E quando não houver mais o que pensar
Nem mais o que se dizer sobre o que não vivemos...
Irei viver sem pensar...
Quando não houver mais o que sonhar
Nem mais como me perder dentro de você...
Irei sonhar que posso me perder mais uma vez...
E mais uma, mais uma... Sempre.
E quando não houver mais a sua voz
Ficarei muda e surda, para nunca mais esquecê-la...
Quando não existir mais alguém que lhe faça feliz,
Quando não tiver mais ninguém que possa lhe encontrar...
Eu irei lhe encontrar e fazer feliz...
Porque diante de todos esses delírios há amor...
Há amor nessa declaração primitiva!
Eu dei em pedaços tudo o que não podia dar por inteiro, mas dei...
Você foi a particularidade mais profunda que eu pude manter em segredo...
Meu encanto e desalento...
Você foi tudo o que eu tive e não possuí...
E quando não houver mais o carnal...
Irei lhe manter, eternamente, na carne da minha alma...
Porque fosse minha vida, enquanto eu fui um passa tempo dos teus contos perdidos...
(Teresa Coelho)
08/03/2010

quinta-feira, 4 de março de 2010

De dentro

Gosto de sentir o barulho do carro e de ver como as pessoas preferem adormecer...
Não me perguntem quando eu costumo deixar o sol falando sozinho das coisas que ele mesmo não sabe iluminar...
Você bebeu tudo o que tinha no meu corpo com uma acidez que brilhava na boca, me asfixiando de loucura...
Foi um terrorismo de suspiros...
Dessas mentiras ensaiadas na prévia de um amor, que nem mesmo pertencia a essa estória...
Você nunca existiu. Você veio de dentro, de dentro de mim...
Eu costumava lhe vomitar quando me sentia sozinha
Só que a minha alma é o nosso vazio que se mistura aos pedaços juntados da sua inexistência...
Imaginação tem gosto de coisa esquecida...
Imaginar é como comer um doce que não existe mais ou que nunca chegou a comer.
À medida que eu entorpeço minhas mãos na leveza das suas, uma vez apenas, explode na garganta uma fala entupida e cheia de falhas da uma vida disfarçada...
Não importa. Ninguém percebe quando tenho em mim exacerbadamente a vontade de ser.
E sendo, a verdade é que a sua face não se completa com o sol que se esquece de iluminar o começo da imensidão de cada palavra perdida em imaginações desprezadas e fracassadas...
E se... E se... E se eu realmente roubasse todos os delírios que deixamos cair por causa do barulho que vinha da nossa estrada, será que as pessoas continuariam adormecidas?
(Teresa Coelho)
04/03/2010