Primeira parte: Acidentalmente uma introdução
Uma casa numa rua escura, com pouco movimento e alguns
fantasmas. A casa é mal pintada, velha, e, às vezes flutua no submundo dos
medos – enquanto uma pessoa chora, outra pessoa está fazendo sexo com um
desconhecido – apenas uma nota para acrescentar na entrada perto do portão, mas
não pulemos as etapas. O portão é enferrujado, mas o sangue na maçaneta ainda
está quente.
Segunda parte: A solidão é concreta
Dentro da casa revelam-se os figurantes: uma cadeira sem
encosto, um colchão mofado, um ventilador com muriçocas mortas, uma televisão
fora do ar, um sapato molhado, latas de cerveja, pontas de cigarro, parede
derretida, luz colorida meio escura, alguns zumbis que passam no reflexo do
espelho quebrado, um copo sujo de batom vermelho, uma pia com vazamento, sonhos
sem dono, geladeira vazia. (Observação: percebe-se o chão um pouco fora da
realidade, nascendo ao contrário do sol).
Terceira parte: Personagem de caráter patético
Posição da personagem indefinida no cenário. Sem postura, o
olhar nunca é intenso, deve sentir-se olhando para o buraco de uma fechadura
que, por azar, tem uma chave – certo mistério cansativo. O sorriso vai brotar
quando não souber o que falar, mesmo sendo escrava dessa casa, ela vai ter que
sorrir, porque a rotina emperrou sua espontaneidade. Ela tentará gritar, mas
algo reprimirá seu desespero, como se incomodasse o mundo com seu jeito
exaustivo de expressar o que sente. A
personagem tem um perfil comum, e sendo assim, não será preciso investigar sua
relação com o resto do cenário nem tampouco com o resto do texto ou da vida.
Talvez ela desmanche-se perto do colchão mofado, para que não percamos tempo
com um final evidente de tragédia cotidiana.
Quarta parte: Análise sobre a mente
Não é permitida a entrada de personagens fictícios para não perturbar
a autora do texto – e ação!
- Corta!
(Teresa Coelho)
03/12/2012