sexta-feira, 28 de maio de 2010

Passado

Eu quero meu passado de volta. Por favor, eu imploro que alguém o traga de volta para mim. Imploro... Ouviram?! Passei a ser uma prisão a céu aberto, onde o que me prende é ela vir me buscar ou não. Ela a vontade. Não quis olhar mais o que nos restou porque meu corpo agora traz resíduos do que um dia foi comida para nossas façanhas... Sinto-me exausta como uma crosta que pesa na consciência. Eu arranhei o teu olhar rabiscado, fiz desse um desenho estranho. Você é a vontade estranha, a qual eu jamais pertenci e jamais me fiz dela um desejo seu. O que tinha de bom desvaneceu-se, queimou, sublimou, sumiu... Deixou de ser. Pode ir, deixo de ser o peso ou qualquer erro sem detalhe. Minha fantasia desvale todo sentimento jogado a valer pena, desvale todo beijo dado para ser verdadeiro, desvale toda a paixão que virou vácuo e silêncio. Meu caos contra a sua disciplina. Como é difícil mexer numa história que nunca chegou a ser intensa... Foram madrugadas soltas, diria perdidas? Mas perdidas de nós ou por nós? Diria as duas coisas. Minha boca pede ajuda, meu coração pede abrigo, meu corpo pede nuvens... Sou feixe de nudez, no entanto minha maldade sofre de inferioridade óptica. Eles me ouviram e chegaram para me buscar. Estou voltando um pouco para o passado, lugar onde não se tem o presente, nem o futuro, nem a nostalgia. A nostalgia é felicidade mórbida e boa. No passado eu não perdi ninguém, nem conheci os defeitos das borboletas que um dia me deixariam por falta de atenção. O passado é a vida adormecida; dormência escrita sem veneno. Adormeci.

(Teresa Coelho)
28/05/2010

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Mais um se foi

Alimento-me de intensidade, extremos e detalhes...
Se um dia alguém me encontrar, não tire isso de mim.
Tire-me a paixão ou a loucura...
Que de nada me valem ao não ser corroer minha existência...
Essa existência falha e ambígua...
Cansei do silêncio, do mistério e do prazer...
Fico esperando você voltar, voltar para você...
Viver me retalha em sangue póstumo...
PAREI COM ISSO! Eu só queria realmente desabafar e dizer em palavras cruas e primitivas o que me aflige... Mas o meu canto é falho e impreciso. Minha expressão é fugitiva, covarde. Não quero me seguir, não quero amar. O amor é dor entupida. Peço desculpas a vocês, meus caros leitores, de não terminar Isso como eu queria ou como vocês esperavam, só que minhas mãos tremem de ódio, minha garganta dói com o choro entalado... Não quero amanhecer, nem ver o sol, o mesmo sol que um dia já me fez feliz, hoje queima.

(Teresa Coelho)
26/05/2010

terça-feira, 25 de maio de 2010

Vôo

Então me deixem voar, mesmo que isso me quebre a paz... Renuncio minhas asas.

(Teresa Coelho)

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Sede

Eu me derramo em seus espasmos
Cobertos de injúrias
Ditas por outras bocas...
Eu me supero no seu colo
Esse quente e terno
Eterno?
Caímos por sede...
Levantamos por sede...
Caminhamos também por sede?
Tudo é sede a partir da paixão?
Não há saliva que me regenere...
Procuro a cura todo o tempo em alguma visão escapulida de seus beijos...
Seu beijo. Meu.
Minha inconseqüência. Sua.
Dou-lhe meu corpo fatigado em memórias despidas...
Ainda lembra-se dos corações farpados?
Lembro-me do movimento falho, preciso e amado...
Estou a buscar o seu calor...
O seu mistério...
O seu silêncio...
O seu prazer...
E espero o amor
O tempo que der, vier e for...
For por amor, eu espero.
For por nós, eu vivo...
E vivo...

(Teresa Coelho)
24/05/2010

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Amores sem Flor

Sabe as flores? Eu odeio falar sobre elas, mas falo.
Sabe o amor? Eu também odeio falar sobre ele, mas falo.
Flores e amor são duas coisas inevitáveis.
Pensando bem, você acha as flores descartáveis? Eu também acho. No entanto, flores são delicadas e lembram o amor...
Então os dois são a mesma coisa.
Você não acha? Nem eu.
O amor não precisa das flores para ser amor, nem as flores precisam do amor para serem flores.
Sabe o fim? Eu odeio falar sobre ele, mas falo, quer dizer, acontece.
Ou eu falo? Sim, eu falo e fim. Fim. Tudo tem fim. Fim.

(Teresa Coelho)
20/05/2010

sexta-feira, 14 de maio de 2010

A vida e as Flores

A última vez que eu vi flores avulsas, minha respiração tinha parado. Elas pararam de amar o pólen e a vida parou de fabricar cores. Intercalei meu sangue nos arbustos desenhados em paisagens mortas e peguei estrelas com as pontas de meus dedos. No entanto chega. A natureza me dá náuseas, é tão poluente de coisas que nunca mudam, fartei-me da mesmice. Mais tarde tentarei conversar com a minha febre, ela me dá novos mundos, mas não, não direi novos mundos, porque tudo o que criamos é como se já existisse de alguma maneira dentro de nós. Eu conheci um anjo. A felicidade agora tem a cor dos seus olhos castanhos, o vento tem a forma de seus cabelos e a vontade de sorrir tem o gosto do beijo... Essa tarde eu sentia falta de olhar pela janela, só que já não me importa ver a vida do lado de fora, quando ela começa a acontecer dentro de alguém que é mais amor e vida do que a própria vida que levamos sem perceber, sem acreditar. Pularei de um penhasco com os olhos fechados, porque quando chegar lá em baixo não lembrarei que a vida vista de uma janela é mais fácil de conviver, quando tudo que se tem são beleza e solidão. Eu quero ser de verdade.

(Teresa Coelho)
14/05/2010

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Alma pelo Avesso

Não sei como começar, nem como falar...
O que eu sinto agora é algo feito uma magia sem mágica...
Aconteceu...
E eu renasci.
Não precisam saber sobre o que eu estou falando...
Apenas sintam ou finjam sentir...
Eu não poderia imaginar quão súbito fosse ser feliz
Não poderia imaginar que você viria a ser minha melhor fragilidade...
Os detalhes são os seus olhos...
Sempre desviando dos meus, o seu sorriso brota por timidez...
Nós brotamos por desejo...
Nada do que vivemos de tão pouco sai de mim...
Esse tão pouco preenche tudo...
Perdemo-nos em lábios trêmulos
Sem oxigênio...
Foi muita vida pra tão pouco tempo...
Por isso eu quero mais...
Quero fazer poesias concretas...
E me concretizar, de algum jeito, na sua alma...
Posso ser a sua vontade se você quiser...
No entanto, não me deixe sem o gosto da loucura que é amar pelo avesso...

(Teresa Coelho)
12/05/2010

sexta-feira, 7 de maio de 2010

3

Inventei de me descobrir por dentro e acabei perdida nos extremos da minha pressa...
O jardim está desfalecendo tão rápido...
Faz dias que não vejo borboletas voando distraídas...
O que me distrai?
O anseio me destrói...
Nada me leva e nada me deixa.
Por onde fico então?
Dê-me a fórmula do arrependimento...
A solidão me envenena, suspira poeira pesada...
Suja-me de terra e depois me enterra.
Ela resfolega minhas preces e me implora para não abandoná-la...
E ordena a exumar suas escarnas com meus pecados...
Machucando contra eles...
Ouvi dizer que viriam logo cedo, depois da meia vida...
Não veio ninguém, eles têm medo dela...
De mim?
Foi a última vez que eu os vi...
Estavam sentados: eles, a solidão e as borboletas.

(Teresa Coelho)
07/05/2010

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Rabiscos

Estou diluindo em pedaços apodrecidos do meu corpo
A felicidade é um grito e eu não suporto mais tentar ouvir...
Tudo vira pó, sopro...
Virei mágoa... É um vazio tão grande...
Afastem-se de mim! Afastem-se!
Meus olhos estão inchados, flamejam...
Eu tremo um desespero agudo...
Enquanto houver dentro de mim algum vestígio do que lhe faça feliz
Abdico viver dos restos que nunca acontecerem na minha vida...
Se alguma coisa em mim ainda lhe tira o fôlego...
Deixe-me voltar a respirar por você...
Sabe a minha gentileza? Falaram que ela não existia mais...
Só que você existe nela...
Permaneço ao seu lado, mesmo sem poder rabiscar meus sonhos em seus olhos...
Foi você o meu melhor desenho...
Não vou lhe apagar, nem dizer que quero desenhar outra pessoa nas minhas letras...

(Teresa Coelho)
06/05/2010

domingo, 2 de maio de 2010

Um Motivo

Por tanto tempo eu procurei alguém que me deixasse sã dos meus extremos...
Esse encontro tem sido explosivo e tem me perpetuado de alguma maneira em você...
Mas eu peço permissão para conhecer o jeito que te faz sorrir melhor...
Qual a sensação de sair ao sol e saber que a mais bela de todas as pessoas a sua volta?
Sua presença tem cheiro de poesia.
Não é por gentileza que falo isso... É por algo mais forte do que eu...
É por você...
Só posso te dar esse tipo de beleza...
Porque me é escassa a pretensão de inverter o doce de todo começo...
Lá fora é tudo muito frio e não tem graça deitar no chão sem você...
A única expectativa que eu crio é de poder libertar a sua entrega...
Quero buscar em seus olhos o que falta no meu coração...
Quero me suprir do seu oxigênio...
Vamos amanhecer mais uma vez?

(Teresa Coelho)
02/05/2010

sábado, 1 de maio de 2010

Impulso

Pertenço a cada olhar que sabe me fazer viver de verdade. Desmancho porque não me convém passar sólida por ninguém. Gosto de pessoas de verdade, por isso: Não me projete para satisfazer o vazio da sua vida.

(Teresa Coelho)
02/04/2010