terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Primeira volta à lua

Uma criança de 12 anos me ensinou a chorar por dentro. Me vi máquina reprodutora de regressos incompreensíveis - jogo de amarelinha, espinho no pé, suor na língua, sorvete de cocaína. Pensei que o absurdo fosse pagar 7,50 num café menor que o meu dedo do meio. Vou abandonar a universidade daqui a alguns minutos. Finjo caminhar na prancha vedada do ego - monstruosidade exposta na rua da primeira mão que me disse adeus. Eu sei que elas me viram beijar o espelho do provador de roupas. Me sento nua na frente do armário e espero meus amigos voltarem. Não voltarão. Uma criança de 12 anos descobre o futuro nas lentes míopes dos pais. Sussurram que a morte é uma questão de sorte - conhecer alguém duas vezes. Sufocadas pelo travesseiro universal da mudez, nunca mais saberão que estavam certas. Já não posso mais sustentar esses livros. Elas desviam o olhar. Elas sabem o que tem na última página. 

Teresa Coelho

2015