Uma criança de 12 anos me ensinou
a chorar por dentro. Me vi máquina reprodutora de regressos incompreensíveis -
jogo de amarelinha, espinho no pé, suor na língua, sorvete de cocaína. Pensei
que o absurdo fosse pagar 7,50 num café menor que o meu dedo do meio. Vou
abandonar a universidade daqui a alguns minutos. Finjo caminhar na prancha
vedada do ego - monstruosidade exposta na rua da primeira mão que me disse
adeus. Eu sei que elas me viram beijar o espelho do provador de roupas. Me sento
nua na frente do armário e espero meus amigos voltarem. Não voltarão. Uma
criança de 12 anos descobre o futuro nas lentes míopes dos pais. Sussurram que a morte é uma questão de sorte - conhecer alguém duas vezes. Sufocadas pelo travesseiro universal da mudez, nunca mais saberão que estavam certas. Já
não posso mais sustentar esses livros. Elas desviam o olhar. Elas sabem o que
tem na última página.
Teresa Coelho
2015