quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Do que já não é mais azul


Suporto mais perto de mim o que não
Pressente com fluidez o espírito saindo
Pela janela gradeada do oitavo andar
Onde a luz é um feixe na parede desbotada
De uma metáfora suja sobre o que não significa mais
Estar em casa, ter um lar ou fingir que escreveu
A primeira carta de amor da sua vida quando
Já não soube mais voltar para si mesmo

(Teresa Coelho)
01/03/2013

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Ilusão que dança


As cortinas movem as silhuetas dos fantasmas e da luz,
Dançam de luto vermelho um tango para a noite
Dos bares outrora, das pernas que se entrelaçam
Na madrugada perene, no chão úmido dos solados
Quase mastigados pelo suor que escorre
Do batom desbotado das bocas fulminantes.
Quando o mofo nas cortinas limita-se
A um fluorescente entardecer
O vento para de fazer poesia
E as cortinas cessam
Em panos velhos.

(Teresa Coelho)
25/02/2013

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Quadro


O rio brando não existe na tela
Que martela na minha cabeça
A ponto de mergulhar
No chão de fumaça
A concreta forma sem fôrma
Da aquarela que se derrete
Entre meus dedos e vísceras
Os únicos dias que pude
Ver com tamanha exatidão
A primeira pintura parida
De meus dois olhos negros
Foi uma dor surrealista
Tão feita a esmo
Feito redemoinho
Que não cessa no peito
Do vento branco
Fuligem

(Teresa Coelho)
17/02/2013