quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Desordem


O céu é azul por engano
Quando a luz invade o tempo
Meus músculos pesam no chão
Porque flutuo sobre mim
E perco a dimensão da realidade
Que me sustenta
Os dias refeitos num contínuo
Suor da pele que transpiram
Cada tentativa vã
De ser alguém melhor
Mas não esvazia do meu
Peito inchado o fracasso de ter
Me tornado uma amadora
De minha vida
Por coincidência
Ou por engano

(Teresa Coelho)
23/01/2013

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Domingo à noite chovia


Refaço a cama com esses panos empoeirados, e depois de mais um dia com a mesma dor nos ombros e o peso nos olhos, descubro que arrumo a cama para a solidão. Por dentro, eu durmo no chão, na parte dura e real da vida. Eu cubro a solidão, vigio seu eterno sono, amando-a num infinito de muitos ''eus'', que mesmo sendo meus não me pertencem mais. Sou escrava da minha melancolia, sou escrava de mim porque nasci e não pude ser diferente do resto do mundo e das pessoas más. Envelhecer me custará rever toda a minha cegueira e continuar cega. No mais, alguém terá que arrumar a cama, alguém terá de viver, e estou em pé esperando pelo menos que, enquanto os lençóis ainda estiverem bagunçados, é porque a vida também terá algum sentido em si, assim como os panos desfeitos de uma cama sem dono. 

(Teresa Coelho)
10/01/2013

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Vida imaginária


Tiro o lençol sujo e deixo a cama nua
À espera dela, que nunca se demora
Para deitar-se em silêncio no colchão crespo
No entanto, eu sinto o tempo
Sumir como um suspiro embaixo d’água
Mesmo com ela por perto
Arrumo a casa, preparo café
E penduro uma toalha limpa
Se a casa desmoronar qualquer noite dessas
O perfume que esconde a dor das flores
Finalmente terá seu descanso
Longe dos livros e da poesia desmontada
 - Ainda não chegou?
Ah, solidão, a sensação é de que você
Sempre está perto de chegar
Mas é sempre quase...
Melhor voltar ao lençol sujo
É ilusão esse silêncio ir embora
Basta...  

(Teresa Coelho)
09/01/2013