domingo, 24 de abril de 2011

Novos olhos (clichê)

Amor? Não, não mais. Seria dor? Sim, mas só na superfície dos olhos. Talvez seja saudade... Saudade e essa mistura de egoísmo, antíteses e urgência de viver. De vida. Embriaguez em novos olhos. Sim, estou embriagada em novos olhos. Minha urgência agora é outra, minha paz agora é outra. Sou a mesma em outra pessoa. Dá-me tua respiração e eu te darei todo o meu fôlego.

Teresa Coelho
24/04/2011

domingo, 17 de abril de 2011

Última

Viver esses últimos meses tem sido como abortar qualquer passagem de luz, horizonte ou esperança. Fica nos poros da pele o suor da dor. É como se uma mão arrancasse meu coração através da boca e ele continuasse batendo por fora, nessa mão desconhecida. Por dentro fica oco, mas dói ao ver que ele ainda bate, mesmo sem vida. Antes de você eu não me sentia tão pequena, não perdia tanto tempo procurando uma maneira de sobreviver ao invés de viver. Estou sobrevivendo, apenas. Cuidar do que ficou espalhado nas fotografias é inútil, é ousar lembrar demais, é se acorrentar no pouco que restou. Mas nada restou para me manter em paz aqui... Vou ler meu último livro, ouvir minha última música, vestir minha única roupa, beber meu último espetáculo de silêncio, deitar com uma última-qualquer pessoa e não acordar mais como uma última lembrança da sua vida. Defino minha dor: continuar.

Teresa Coelho
17/04/2011

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Menino da barraquinha

Todas as terças-feiras ela saia à tarde de casa direto para o balé. Sempre tão feia e esquisita, nem percebia que estava de rosa e ainda era uma criança. Mas tinha um menino que atrapalhava o caminho dela, feio também, mas ela continuava sem perceber. Queria conhecer como era juntar duas coisas feias, de mundos tão diferentes e de corações tão vermelhos ainda pelo pouco tempo de vida. Ele não sabia que ela existia nem que tinha sentimentos, só que a menina era criança o suficiente para amar pelos dois. E amou. Entregava cartinhas dizendo que era uma mulher ruiva e muito magra, quando era só sem formas físicas e cabelo sem graça. Pediu o menino em namoro sem saber, escreveu o nome dele no diário com páginas e páginas de solidão; a letra era feia também. Ela sempre teve letra feia. Um dia ele chamou a menina de linda... As bocas se tocaram, ela com pureza, ele nunca descobriu ao certo como se sentiu. A língua dele rompeu o hímen do amor, do amor que ela jamais tivera provado, mas não só a língua, o rosto, a voz, o calor, o cheiro, o novo. E não sabia a vida, ou talvez soubesse que agora ele estava levando toda essa pequena e eterna história para debaixo da terra. Como ia saber a menina se tudo o que ela viveu nesses dias iria apodrecer junto dele ou iria ficar vivo dentro dela? Na época eles sabiam, mas hoje fica flutuando, esquecido no tempo, no adeus e no que nunca pôde acontecer.

Teresa Coelho
11/04/2011

sábado, 2 de abril de 2011

Dor, dor, dor

Todo esse amor que agora é mais dor que lembrança, é um aborto que morre e sangra todos os dias dentro da vida que se foi amputada de outra vida.

Teresa Coelho