quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Canção


O tempo derreteu as casas da minha infância, meus abrigos secretos e caminhos sem fim. Abri uma cortina empoeirada e, lá restou enferrujada a roda de alguma bicicleta que deixei para trás, por não saber mais equilibrar-me na liberdade. Hoje, penso que seria o tempo o culpado de levar tudo isso para longe de mim, mas dentro de mim o tempo nunca existiu. – Há bicicleta branca, casas secretas e meu caminho sem fim, como uma música que se repete.

    (Teresa Coelho)
    31/10/2012

domingo, 28 de outubro de 2012

Bom dia


Acordei com o frio à procura do teu sol de línguas
Prefiro assim: teu rosto na minha luz
Enquanto o travesseiro suga os fios do teu cabelo
Eu confesso baixinho que bom dia é um beijo nas tuas costas
Felicidade é um arrepio
Olhei-te dormindo no meu colo
E fiquei completamente arrepiada

(Teresa Coelho)
28/10/2012

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Gosto de canela


O mundo lá fora é um eco do infinito
Vou soltar balões no seu quarto
Eu posso esperar você
Suas mãos tão pequenas e caladas
Engolem meu fôlego
Mas eu não me importo
Não sei falar coisas bonitas
A vida (a)pareceu tão bonita hoje
Porque ontem lhe conheci
Posso falar como é o som do seu riso
Mas ele é o segredo do meu sorriso
O mundo aqui dentro é o infinito

Teresa Coelho
23/10/2012

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Vácuo


Meu coração cansou de sentir-se velho
Gostaria de pousar mais vezes em mim
Sentir meu corpo como um objeto mortal
Ou escaldar meus sonhos com uma peneira
Abstinência de paz como um escudo
Para privar-me de novas angústias
Olho o espelho refletindo a parede fria
Se eu fosse uma parede nunca iria fazer mal
A ninguém, a nada e nem a mim
Qualquer um poderia desmoronar-me
Qualquer um poderia construir-me
Eu quero virar pó e ir embora com o vento

Teresa Coelho
16/10/2012

Tarde verde


O sono me traga para dentro da areia morna
A onda verde que vem do mar traz o peso do céu
O sal da água é só a lembrança da tua língua no meu corpo
O mar pousou forte nos meus pés
Como o frio na barriga dessa tua presença
Tua saliva é calafrio silencioso
Feito o mar que afoga sem a gente sentir
Me afoguei em ti 
Quando vi a onda se desfazendo na areia... 

Teresa Coelho
13/10/2012

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Sol, lágrima, amarelo


Eu só me pergunto onde
A luz que toca o mar dorme
Enquanto ninguém a vigia
Os últimos raios que eu não pude ver
Escondem-se atrás
Do amarelo salgado do sol
Abaixo, as nuvens travestem a alegria
Que nossos olhos enxergam
Mas a luz não termina
Quando estes últimos raios
Tocam o mar
Fecho os olhos
E na minha alma
O sol está nascendo
De novo

(Teresa Coelho)
08/10/2012

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Pequeno voo


Pássaros é a poesia das entrelinhas
Do azul que escapa ao olho nu
Descanso no seu ombro como se
Metade da paz que eu escondo
Fosse por inteira minha morada

(Teresa Coelho)
04/10/2012