quarta-feira, 2 de março de 2011

(Perdoe e volte e fique)

Diabolicamente expeliram minha fantasia de anjo nu em cima do sorriso que me fazia viver. Picotaram, queimaram e jogaram esfregando no rosto mais puro do mundo meu sangue apodrecido. O corpo vestido de criança, culpado de tudo. Existe ainda alguém para aliviar essa sensação que queima os ossos e fadiga os sonhos? A nudez do anjo não teve integridade e nem ao menos soube limpar o sorriso que lhe fez viver para desenferrujar um pouco esse desabafo, não triste, mas completamente morto. O céu vendado e a falta de sono, diga-me Deus, por onde mais poderão sangrar meus fluidos tão secos e amargos desta paisagem vazia e estreita que se tornou meus dias, minha vida e o que eu sou? Destruí a melhor parte da história do anjo e do sorriso: o reencontro. Mas que anjo? Que anjo?! Eu gostaria que a boca dela tivesse sorrido mais um pouco antes de partir. Já não posso mais ecoar o que se foi despido enquanto eu fechava os olhos e não conseguia mais ouvir o barulho da sua risada, já não posso mais dormir por cima dos meus seios com urgência e leveza. Não há como sentir meu corpo se ele não vibra mais por nada, não há como sorrir, não há como terminar isto... Não há nunca mais o amor.

Teresa Coelho
02/03/2011

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