domingo, 17 de abril de 2011

Última

Viver esses últimos meses tem sido como abortar qualquer passagem de luz, horizonte ou esperança. Fica nos poros da pele o suor da dor. É como se uma mão arrancasse meu coração através da boca e ele continuasse batendo por fora, nessa mão desconhecida. Por dentro fica oco, mas dói ao ver que ele ainda bate, mesmo sem vida. Antes de você eu não me sentia tão pequena, não perdia tanto tempo procurando uma maneira de sobreviver ao invés de viver. Estou sobrevivendo, apenas. Cuidar do que ficou espalhado nas fotografias é inútil, é ousar lembrar demais, é se acorrentar no pouco que restou. Mas nada restou para me manter em paz aqui... Vou ler meu último livro, ouvir minha última música, vestir minha única roupa, beber meu último espetáculo de silêncio, deitar com uma última-qualquer pessoa e não acordar mais como uma última lembrança da sua vida. Defino minha dor: continuar.

Teresa Coelho
17/04/2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário