segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Ana


Marchavam a caminho da cova acompanhados pela luz do sol, e o que sabiam daquela luz, era o fardo do corpo que carregavam já sem vida. Descalços, os pés ruídos pela terra seca, as bocas fazendo-se mudas em prece, em vão, abriam os olhos suplicando por qualquer gota d’água que caísse enxurrando a dor. Ana tinha doze anos quando descobriu que além daquele fardo, também havia uma alma infida. Com seus pés pequenos, a pele morena avermelhada, cheiro de mato e sorriso no canto do rosto, desenfreou para fugir de milhões de pernas que pisavam sua pequena existência. Ela corria, e corria, e corria, e corria... buscou todo o fôlego na vida que acabara de ser descoberta. Pousando as mãos no rosto, jogou-se com toda sua força para dentro de si. Impacto. Silêncio. Mergulhou num poço, e a água a invadiu como se fossem centenas de facas penetrando os espaços vazios e rachados de todos os seus sonhos – sonhos afogados. Ana adormeceu com uma flor que boiava acima de suas costas. A flor seria então, sua vida separada de seus sonhos? Ela nunca acordou para descobrir.

(Teresa Coelho)
06/08/2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário