Marchavam a caminho da cova acompanhados pela luz do sol, e
o que sabiam daquela luz, era o fardo do corpo que carregavam já sem vida. Descalços,
os pés ruídos pela terra seca, as bocas fazendo-se mudas em prece, em vão, abriam
os olhos suplicando por qualquer gota d’água que caísse enxurrando a dor. Ana
tinha doze anos quando descobriu que além daquele fardo, também havia uma alma
infida. Com seus pés pequenos, a pele morena avermelhada, cheiro de mato e
sorriso no canto do rosto, desenfreou para fugir de milhões de pernas que
pisavam sua pequena existência. Ela corria, e corria, e corria, e corria...
buscou todo o fôlego na vida que acabara de ser descoberta. Pousando as mãos no
rosto, jogou-se com toda sua força para dentro de si. Impacto. Silêncio.
Mergulhou num poço, e a água a invadiu como se fossem centenas de facas
penetrando os espaços vazios e rachados de todos os seus sonhos – sonhos afogados.
Ana adormeceu com uma flor que boiava acima de suas costas. A flor seria então,
sua vida separada de seus sonhos? Ela nunca acordou para descobrir.
(Teresa Coelho)
06/08/2012
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