quinta-feira, 12 de julho de 2012

As cores de Sofia


Sofia enfeitava os cabelos sem saber o que amadurecia no toque de suas mãos. Naquela manhã fria, ela sabia que sair do quarto desmancharia seu penteado – alguém iria descobrir o quanto ela esforçava-se para não demonstrar sua feiura. Pobre Sofia, tão feia, que não sabia sorrir. Quando deitada na cama, o mundo parecia girar só para si, as cores surgiam dos olhos como um choro num grito trépido. Cansada de ouvir tolices sobre o amor, o perfume, a companhia e a lealdade, decidiu trancar-se num mundo cru – o cru e a poesia suja agora eram sua verdade. ‘’Quem precisa de beleza quando se tem um coração doente implorando por solidão?’’, era o que Sofia repetia olhando para o teto, tentando devorar o choro, enquanto percebia-se, mais uma vez, sendo devorada pela vida.

(Teresa Coelho)
12/07/2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário