talvez eu não saiba mais o que
vestir quando tu voltar. dois ombros cansados das nuvens ciganas que não
conseguem mais adivinhar onde dói a chuva na gente. atravessei duas pontes
molhadas de peixes apodrecidos e zumbis sem dentes só para pensar mais uma vez
e mais outra vez na última imagem petrificada das tuas costas. em nome do meu adeus
precipitado tive que atravessar tua imagem em silêncio como se tu fosse sair de
todas as portas daquela avenida. teu rosto ainda está na almofada comprada na última
liquidação do ano passado e através do box
quebrado do banheiro a água vai desenhando teu corpo com frio e a xícara sempre
fica com a colher que tu não lava. o amor ele só vive nas cartas e nos pedidos de
desculpa mas agora mesmo eu não consigo cruzar os braços no estômago sem pensar
que isso também é amor. tua mão abrindo a grade da tua casa e alisando o
cachorro e me ensinando a matar baratas. por que tu foi grudando desse jeito
nas coisas mais invisíveis e por que tudo parece querer pular da janela do
ônibus como se as luzes das casas fossem tapetes mágicos. talvez eu não saiba
mais o que vestir quando tu não voltar.
Teresa Coelho
11/10/2014
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