sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Todas as pontes sem cadeado

talvez eu não saiba mais o que vestir quando tu voltar. dois ombros cansados das nuvens ciganas que não conseguem mais adivinhar onde dói a chuva na gente. atravessei duas pontes molhadas de peixes apodrecidos e zumbis sem dentes só para pensar mais uma vez e mais outra vez na última imagem petrificada das tuas costas. em nome do meu adeus precipitado tive que atravessar tua imagem em silêncio como se tu fosse sair de todas as portas daquela avenida. teu rosto ainda está na almofada comprada na última liquidação do ano passado e através do box quebrado do banheiro a água vai desenhando teu corpo com frio e a xícara sempre fica com a colher que tu não lava. o amor ele só vive nas cartas e nos pedidos de desculpa mas agora mesmo eu não consigo cruzar os braços no estômago sem pensar que isso também é amor. tua mão abrindo a grade da tua casa e alisando o cachorro e me ensinando a matar baratas. por que tu foi grudando desse jeito nas coisas mais invisíveis e por que tudo parece querer pular da janela do ônibus como se as luzes das casas fossem tapetes mágicos. talvez eu não saiba mais o que vestir quando tu não voltar. 

Teresa Coelho


11/10/2014

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