domingo, 21 de julho de 2013

As asas que calaram

Há um pássaro sussurrando no meu ouvido “se o céu fosse mais perto, eu não conseguiria voar”. A corrente de ar que escapa das asas disformes me arranha em contínuos calafrios. Sinto cada pena dedilhar as minhas costas feito a ponta de uma língua trêmula - um demônio que copula sensações sobre cheiros violentos. Asas que lambem meu corpo como se estivessem prontas para cavar o mundo embaixo da minha cova. De repente, são infinitos pássaros voando de lá para cá, disputando o branco das paredes com o engano das suas cores. Minhas cores. O vazio é um voo noturno. Os sussurros não param, percorrem pelo pescoço, puxam pelo cabelo e batem... batem... simulam. O céu é um teatro distante, onde pássaros não podem ser borboletas e a solidão é um corpo que nega suas asas.

(Teresa Coelho)

22/07/2013

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