Há um pássaro sussurrando no meu ouvido “se o céu fosse mais
perto, eu não conseguiria voar”. A corrente de ar que escapa das asas disformes
me arranha em contínuos calafrios. Sinto cada pena dedilhar as minhas costas
feito a ponta de uma língua trêmula - um demônio que copula sensações sobre
cheiros violentos. Asas que lambem meu corpo como se estivessem prontas para
cavar o mundo embaixo da minha cova. De repente, são infinitos pássaros voando
de lá para cá, disputando o branco das paredes com o engano das suas cores. Minhas
cores. O vazio é um voo noturno. Os sussurros não param, percorrem pelo
pescoço, puxam pelo cabelo e batem... batem... simulam. O céu é um teatro
distante, onde pássaros não podem ser borboletas e a solidão é um corpo que
nega suas asas.
(Teresa Coelho)
22/07/2013
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