Quando acordei, o dia já raiava quente no meu rosto, as
pontas dos cigarros, as cervejas quentes me encavaram da janela. Achei que você
tivesse voltado, achei que tinha ouvido sua voz – procurei qualquer mentira para
me levantar da cama. Noite passada, eu confessei para uma estranha ‘’só faço
poesia quando me apaixono’’, descobri que já tinha me apaixonado pelos olhos
verdes dessa estranha; outra vez, me apaixonei pelas patas do meu cachorro, pela
solidão de minha avó, pelo sexo dos loucos, pelos meus amantes, pela minha
culpa, por cada pedaço quebrado do meu coração, por suas despedidas. Fiquei
remoendo minhas paixões durante toda a manhã, enquanto engolia a seco minha
saliva, minha ressaca, minha dor. Lamentava o valor de ser este corpo cheio de
vícios, tão vazio e promíscuo. Aquele acordar suave já não fazia parte de
minhas paixões – abrir os olhos era um tipo de esperança clichê. Depois de
horas pensando em como levantar, em ir adiante, virei meu corpo para a parede,
fitando o branco, dormi de novo. Só acordei quando o sol parou de fingir que
iluminava alguma coisa dentro de mim. E no mais, cansei de lhe esperar.
(Teresa Coelho)
06/09/2012
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