quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Confissões de uma sombra


Quando acordei, o dia já raiava quente no meu rosto, as pontas dos cigarros, as cervejas quentes me encavaram da janela. Achei que você tivesse voltado, achei que tinha ouvido sua voz – procurei qualquer mentira para me levantar da cama. Noite passada, eu confessei para uma estranha ‘’só faço poesia quando me apaixono’’, descobri que já tinha me apaixonado pelos olhos verdes dessa estranha; outra vez, me apaixonei pelas patas do meu cachorro, pela solidão de minha avó, pelo sexo dos loucos, pelos meus amantes, pela minha culpa, por cada pedaço quebrado do meu coração, por suas despedidas. Fiquei remoendo minhas paixões durante toda a manhã, enquanto engolia a seco minha saliva, minha ressaca, minha dor. Lamentava o valor de ser este corpo cheio de vícios, tão vazio e promíscuo. Aquele acordar suave já não fazia parte de minhas paixões – abrir os olhos era um tipo de esperança clichê. Depois de horas pensando em como levantar, em ir adiante, virei meu corpo para a parede, fitando o branco, dormi de novo. Só acordei quando o sol parou de fingir que iluminava alguma coisa dentro de mim. E no mais, cansei de lhe esperar.

(Teresa Coelho)
06/09/2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário