segunda-feira, 11 de abril de 2011

Menino da barraquinha

Todas as terças-feiras ela saia à tarde de casa direto para o balé. Sempre tão feia e esquisita, nem percebia que estava de rosa e ainda era uma criança. Mas tinha um menino que atrapalhava o caminho dela, feio também, mas ela continuava sem perceber. Queria conhecer como era juntar duas coisas feias, de mundos tão diferentes e de corações tão vermelhos ainda pelo pouco tempo de vida. Ele não sabia que ela existia nem que tinha sentimentos, só que a menina era criança o suficiente para amar pelos dois. E amou. Entregava cartinhas dizendo que era uma mulher ruiva e muito magra, quando era só sem formas físicas e cabelo sem graça. Pediu o menino em namoro sem saber, escreveu o nome dele no diário com páginas e páginas de solidão; a letra era feia também. Ela sempre teve letra feia. Um dia ele chamou a menina de linda... As bocas se tocaram, ela com pureza, ele nunca descobriu ao certo como se sentiu. A língua dele rompeu o hímen do amor, do amor que ela jamais tivera provado, mas não só a língua, o rosto, a voz, o calor, o cheiro, o novo. E não sabia a vida, ou talvez soubesse que agora ele estava levando toda essa pequena e eterna história para debaixo da terra. Como ia saber a menina se tudo o que ela viveu nesses dias iria apodrecer junto dele ou iria ficar vivo dentro dela? Na época eles sabiam, mas hoje fica flutuando, esquecido no tempo, no adeus e no que nunca pôde acontecer.

Teresa Coelho
11/04/2011

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