segunda-feira, 28 de março de 2011

Sonho

Tudo é pó e a solidão fica meio ensolarada enquanto eu choro o que não reproduz mais tinta no papel. Toda manhã, não sei mais o que me mantém disposta a encarar o rosto surrado no espelho, é como comer um pão mofado. Vou sentar mais uma vez perto de uma vida que deixei para trás, quem sabe um dia eu levanto e saio correndo de novo em busca de velhos sonhos. Quero trazer espadas, flores, bolo cru, sujeira em baixo da cama, brinquedos quebrados, cheiro de gato, sorrisos, bruxas no espelho, fugas e o para sempre. Não sei o que fazer das coisas que não vivemos nem do amor que não acabou. Desaprendi a deixar de amar. Seu colo falhou no meio da estrada e minha cabeça caiu no chão muito mais forte que antes... Sopro sem ermo, vida sem palco, amor sem fim, luz que vai sumindo aos pouquinhos dentro de tudo que passou e não valeu a pena.

Teresa Coelho
28/03/2011

quarta-feira, 2 de março de 2011

(Perdoe e volte e fique)

Diabolicamente expeliram minha fantasia de anjo nu em cima do sorriso que me fazia viver. Picotaram, queimaram e jogaram esfregando no rosto mais puro do mundo meu sangue apodrecido. O corpo vestido de criança, culpado de tudo. Existe ainda alguém para aliviar essa sensação que queima os ossos e fadiga os sonhos? A nudez do anjo não teve integridade e nem ao menos soube limpar o sorriso que lhe fez viver para desenferrujar um pouco esse desabafo, não triste, mas completamente morto. O céu vendado e a falta de sono, diga-me Deus, por onde mais poderão sangrar meus fluidos tão secos e amargos desta paisagem vazia e estreita que se tornou meus dias, minha vida e o que eu sou? Destruí a melhor parte da história do anjo e do sorriso: o reencontro. Mas que anjo? Que anjo?! Eu gostaria que a boca dela tivesse sorrido mais um pouco antes de partir. Já não posso mais ecoar o que se foi despido enquanto eu fechava os olhos e não conseguia mais ouvir o barulho da sua risada, já não posso mais dormir por cima dos meus seios com urgência e leveza. Não há como sentir meu corpo se ele não vibra mais por nada, não há como sorrir, não há como terminar isto... Não há nunca mais o amor.

Teresa Coelho
02/03/2011